domingo, 7 de setembro de 2008

Da minha vida só trago seus olhos no bolso.

Se tudo fosse tão simples, que toda a imensidão virasse chácaras. Se tudo virasse a simplicidade de uma cidadezinha do interior, onde os peixes nomeiam; Mais do que qualquer coisa eu odiei o meu amor e amei o meu ódio - seja lá o que for isso, e se possível for.
Primeiro cravei a faca em meu peito, enquanto ela olhava; cortei-me os pulsos jorrados, ao tocar de suas mãos em minhas coxas; torpi-me tão somente com o fitar; com o alisar das madeixas minhas que agora tomavam a cor rubra. O velório foi simplório. Mas o que de fato o leitor vai querer saber é o que tinha eu em meus bolsos. Onde tenho de si o meu próprio. Brilhante esmeralda. Trouxe pra mim a única coisa que furtei-lhe em vida: os olhos. Tirei-os, um de cada vez, indolorosamente. Com as mãos sujas de seu suco, embebidas de palavras sem nexo. Assim como as que profiro, melhor, as que escrevo. Imaginem comigo, seriamente, o sangue escorrendo nas vestes e a cada centímetro percorrido deixasse escrito algo.

Rasgação de sedas

Rasgação de sedas