sexta-feira, 27 de junho de 2008

Disseram que eu não sei escrever romance

Não me deixe assim, sem palavras pra dizer ou qualquer gesto pra escolher. Aquelas mesmas, rasgadas ao saírem, sem eco ou até mesmo sôfregas. A aurora de mim destacada do coração, dilacerado este por desejar a incógnita a frente, abismo ou cachoeira. Desprezava-me, abaixava a fronte e dizia as mesmas, sempre, sem dente, sem lábios; com, mas secos.
De frente, adiante, exitando tudo e nenhum gesto meu, falando carícias e passando em mim as sérias. Serias tão digna. Inclinei o rosto, a música estridente do corpo em conflito, gemido.
Agora só cinzas, que nunca mais regozijariam da vida novamente. Fênix teve seu fim, lento e gostoso. O peixinho dourado com memória fotográfica. Olhou pra mim, sentiu mágoa até seu fim, minha feição de bom moço, de costas, e testa franzida ao virar para o aquário vastidão desconhecida do pobre nadador, que na cachola só meu pesar tinha.Vi meu amor chorar as lágrimas falsas que amei ver, a mentira me interessou e fiquei contente ao vê-lo.
Eu não sei dizer sem mim, por isso não sei escrever romance e se sei é só pra ganhar em troca a noite de alguém. Seja poesia, mas que seja concreta enquanto dure.

sábado, 21 de junho de 2008

Voltei a matar

Descasado. Sem compromisso com os lábios, apenas de olhos nos olhos-baixos das mulheres que por mim passavam. Na memória só uma, mas comigo, lá; comigo: nenhuma.
Eu queria só pra mim aquela dor, só pra mim, que fosse auto, não provocada.Não-provocada. Que ninguém fosse culpado da minha parafilia. Minhas síndromes, suma, minhas. Meus torceres e piscares frestados daquele sol rubro de fim de tarde. Com as afiadas a mão, e teu corpo lá na cama esperando-me, com o suor. Deixei-a, a linda, em cima da cabeceira espreitada de segundo a segundo com canto do fito. Conhecia o morto, com as mãos que ainda eram impedidas, com as antigas mordidas. Ela sabia. Não fugiu. Abriu os braços e me disse que estava pronta pra receber-me, seja, encardido pelo amor festeiro, que no mesmo dia consumira meus doces da memória, mas esqueceu um. Aquela raiva voltara, bateu a porta e entrou, porta aberta. Caminhar devagar, não parecia ela. Chegou no peito, pulsante e dolorido. Encostei na lâmina e olhei o reflexo da escuridão, que inclinava a cabeça. Feri, o primeiro correu-se, a gota incrustada no meu tórax, também começou a jorrar sangue; Elas chorosas gotas de sangue, que corriam do corpo meu ao corpo dela. Sem permissão, começaram.
No dia anterior a vi. Com outro, negando e sorrindo. Sorriu à todos na sala. A faca pediu permissão, não foi descortês sua maleficência. Voltamos ao agora.
Sublime amor que ela dizia no canto do meu ouvido, intercalando gemidos e respirações lascivas. Ela infiltrara-se. Também, com o amor da minha lâmina. Mostrou-me suja. A cabeça saía do lugar, tempo em tempo, tão somente para procurar de volta a vida que fora tirada. Mão a mão. Faca a faca.
O último beijo. Com os lábios roxos, de ambos. E com o último suspiro. Este: louvor meu.

sábado, 7 de junho de 2008

Meu mero amor travestido

Entreaberto os espelhos, refletiu a face obscura de uma tocaia. Com o peito cabisbaixo pela falta de amor. Minto, pela falta não, por ser como era: cheio de batom, com cílios grandes e sombra profana.
Nos palcos este amor dançou; com garotas ou garotos, juntos ou não. Se depravava aos outros amores-vigias, com os olhares pequenos, frestados e medrosos.
De mim herdaram somente o corpo d'alma.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Minha estória gargulesca

Chamei o elevador, ele descia estranhamente mais lento, parecia desfrutar a cada andar que passava, com os perfumes de suas viajantes. Ele chegou esnobe, com a porta emperrou, mostrando.
Subi ao meu. Sentado ao relento dos pensamentos, interrompeu-me. Com o olhar tagarela, me puxou ao hall, com o mesmo soberbo elevador de antes. Dentro um homem garboso e sem graça. Virou pra mim e disse que não me amava mais. Indaguei a causa, conseqüência, e qualquer que fosse a pergunta, nexo ou sem. Derrubei à ela meu coração, que da boca usou de saída. Saiu encharcado da sovina amorosa e manchado daquele mesmo remédio que o fez sorrir.
- Você me amava enquanto estávamos juntos?; com palavras cortadas.
-Não...
O descaso e o sorriso largo na face da moça tirou-me o chão. Um abismo que não cavei, tomei pra mim.Tornei a ela, e a paixão só crescia, não cessava. Deixava mais profunda a ferida. Abri a porta. Ela apontava pra ele e dizia convicta: - Esse que eu amei, e amarei.
Tornara-me um elevador, que de tempo em tempo, tão somente, saciava o amor pelas donzelas que adentravam seu coração, passageiras, as mais belas. Aprendi a amar seus amores, porque dentro de mim fizeram as loucuras que tive de ver. Agora não mais, porque refugiei-me no dos outros; subi ao último andar do prédio antigo. Olhei para os lados, muitos cúmplices. Antes de mim. Diante, também. Todos à mercê de um respirar mais longo, ou adágio saudosista da boa época. Encarei o chão. Ele também me traiu. Abraçou outros e não a mim.

Nada sou...Um gárgula namorador de gotas de chuva. E, ainda...O Sol vem me privar.

Rasgação de sedas

Rasgação de sedas