quarta-feira, 26 de março de 2008

Não queimem as calcinhas

Rogério, machista convicto que tratava qualquer mulher com repúdio, como tratar um animal moribundo, seus carinhos eram só na hora do querer(?). Ademais nada se fazia respeitoso.
Um dia deu bofetadas na primeira menstruada que encontrou, depois de ensagüentada, em dois fluxos, ele observando suas súplicas e movimentos de misericórdia deu-lhe tudo o que a menina queria. A menina de lábios roxos e pele branca, só assim Rogério admirava. Morta.
No andar das horas, sua cúmplice consciência se fez sórdida e de nada mais adiantou lutar. Foi de casa em casa atrás daquelas que tanto tiraram o sossego da alma.
No quarto onde ficava segredando com as paredes surdas, um curioso menino viu o assassino pousar na frente do espelho com as roupas funestas.
No espelho estava grafado de batom roubado: "Não queimem suas calcinhas, dêem-me as."
Apalpava lhe o busto; na procura frustrada, viu o menino. Para próprio(a) se sentiu desejado(a) e de tudo que mais pensou foram coisas que os meninos não fazem.

"Reflitamos"

quinta-feira, 20 de março de 2008

As lembranças de Chopin

Arquivou-se mais um integrante do teatro da vida; puseram-se em expectativa. Teclas apaixonadas gritavam e ecoavam as súplicas do amor que estava por vir, e não chegava. De maneira de Frederic ficava aflito de tanto lhe fazer paciente ao saudoso tempo que lhe trazia brincadeiras de crianças. Onde pulavam os discos riscados pela chave tediada do seu coração disperso.

Tão somente, encontrou-se na beira do abismo em que tanto encontrou apego. O buraco soturno prometeu-lhe aventuras durante a queda.

Suspenso daquele instante. Não se lastimou da dor, divertia-se. Encarava-lhe quando viu a mulher, aquela que tanto o fez parnasiano. Brilho nos olhos, o fogo lambia seu corpo pornograficamente, agora, o sangue tomara proporções devastadoras, a cada célula invastecida pelo sentido lhe fazia tremular a cada palavra tentada.

Frederic agora sentado à frente o piano, tocou. Desfrutou de cada nota, cada pressão que sua mão fazia sobre os tais contatos, com certo desdém trocava-lhes na seqüência da perfeita harmonia.

O silêncio agora tirava toda ‘quela dor que antes mitigou seu interior confesso de vontades.

Calou-se e voltou a calar, até segurar pra si todas as notas pensativas.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Homem que pensava falar

Décio estava na varanda do casebre interiorano, quando viu passar o garotinho que lhe vinha tirando alguns minutos de pensamento. Ele imperou os vocábulos mais lindos que tinha noção.
"Ei, garoto, vem cá me dar algum tempo seu, de atenção!", pensou dizer o velho. O menino continuou o andar, cabisbaixo e reflexivo.
Virando, fitou seu servente sentado na ponta da escada lendo o panfletinho que a brisa tinha trazido, mais forte do que antes escandalizou o seu pensamento. "Ora essa, o que se passa nessa vila?"
O idoso mal encarado, levou mais longe e desintegrou a realidade em ilusões que jamais pensara. Desta vez se fez de vítima; Coronel malogrado. De tempo em tempo ele indagava o local em procura de um que o ouvisse. No outro lado da rua tinha em mesma situação uma menina, que como ele tinha o olhar vago e soslaio. Tampouco se passou e tudo, todos os instantes passados foram suficientes para que o senhor matasse o seu pensar.
Pensara milhões de vezes antes do suicídio psíquico que fizera poucos segundos atrás. A menina espectadora, divertiu-se a cada espasmo que o velho fizera, cada suspiro de dor inexistente e cada refugio que encontrara na morte. Seu último fixar foi divino, a menina que só via, agora escutava as súplicas do artista funesto.
Sentira ciúme infantil e gritara. Ninguém a ouviu. Agora, a menina que pensava falar.


"Reflitamos"

terça-feira, 11 de março de 2008

Onisciência de Zeus

A tarde era quase vulgar de tão linda, com os pássaros de espectadores, vendo o Pai-Sol dormir e deixar que se amassem nos cantos das vielas.
O grande Libertino caminhou entre as faces do caminho inconsciente e viu lá no fundinho da própria alma o rosto de Aurélia, generou-lhe o instante tão pitoresco que nem mesmo ele sabia dizer se tinha a completa razão de olhar com desdém tal forma perfeita.
Na insuficiência da suas palavras, arranhou alguns superlativos que nunca havia pronunciado. Ou impronunciáveis. Não ficou sequer um músculo imóvel, todos entraram na orquestra dançante do embaraço de Libertino, que fez papel de poeta pra tentar levar Aurélia pra cama, mas de nada adiantou só ela manejava o leme da dependência.
Ambos eram prostitutos da vida moderna que tiraria logo a frente as suas vidas, no mesmo instante. Para desfrutarem da volúpia com Afrodite de voyeur. (Shiu! Zeus não sabe.)

"Reflitamos"

segunda-feira, 3 de março de 2008

Acorde de um violino desafinado de um afinador impotente

Eu tentei de mil maneiras afiná-lo, mas só o que consegui foram calos nos dedos e uma dor, incalculável, de cabeça. Gurgel, o violinista, me deixou o instrumento confiando-me o trabalho por um prestígio que forjei com a ajuda de Glória, mulher minha, que sempre teceu elogios superlativos dos dotes imaginários. Glória pra me vender, chegava a se encontrar com o instrumentista pra que de fato me procurasse, e não apenas ficasse na cordealidade. Fui um dia, fazer-me presente dentre os adjetivos, quando de surpresa, vi na casa dos Linhares, Gurgel e minha esposa trocando carícias e conversas mais ao pé d'ouvido, chegando sorrateiro, espiei-os com olhos desdenhosos e acabei me divertindo com todo aquele gracejo. Entrei normal, espantaram-se e puseram, em mesa, explicações cabeludas; "Cala boca, continuem." Eles com espanto, levaram o ato mais a frente e entusiasmaram-se. Cabelos puxados, arranhadas e tapas...Neste cabimento, surtou-me um semblante de descoberta. Olharam com mais desejo, colocando tal sentimento como suas senhorias. Retirei-me por minutos, levei comigo o violino e enquanto o casal casual se desfrutavam, eu afinava em meio.
Notas tortas e desafinadas, nem o desejo - sentimento veemente - me deu a competência que precisei. Joguei-o de lado e juntei-me a eles.

"Reflitamos"

domingo, 2 de março de 2008

"Rasgação de seda"

Como nunca imaginei sequer ser lido, fui premiado e agraciado pela graciosa Roberta Andressa, que me indicou, graciosamente, pro "Eu tenho um blog de Elite". (Perdoem-me a galhofa)





Aqui vão meus indicados:
- Say And! (Principiante experiente)
- Baú do Vovô (Maturidade "in"útil)
- Fio Da Navalha (Suicide sua burrice)
Obrigado a todos que me lêem!

E como de praxe:

"Reflitamos"

Rasgação de sedas

Rasgação de sedas