quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Vida finda de um imortal

Inesperado, sem muitos avisos ele veio caminhando pela rua, segurando sua cantoria que seria libertada no banho, minutos depois. Pôs-se então ao aventureiro instante de soltar alguns versos melódicos com certa timidez. Começou. Humhumhumhum... Foram sua prova de audácia, não mais suficientes. Encontrou na rua o par perfeito, só que muitas vezes, acabou por não escolher nenhuma.
Andou, divertiu seu púbis cansado do sedentarismo de suas pernas, que antes só herdavam dores de falta. Lá no finzinho de algo que avistou, sentiu-se vazio. Em demasia. Mero momento de idade.O coitado se colocou por vontade!
Aquele afinco recôndito em flagelar o pensar; foi logo visto em prosa pelo desconhecido que o mirava de relance, noutro lado da rua. O estranho riu, por conseguir reacionar o mínimo de constrangimento alheio. Com o fato - e ainda bem perto de casa, subiu pro apartamento modesto na rua bonita, a Rua Parede. Sentou-se no sofá e lá voltou a ser o que era, mesmo que depois de todo aquele caminho percorrido por sua reflexão, ela morrera no instante em que pisou na parada moradia urbana e com muitos cantos. (acho, por isso que tanto tomou-se como pouco e sentiu-se como muito)
Falava sozinho, não por ser doido ou por falta de amigo, só confiava, muito, em si mesmo e tudo aquilo, seja um textinho mal escrito ou um palavrão mais cabeludo, ouvi-lo era seu maior prazer. Seu próprio analista.
Café forte pra reanimar o que não pode mais, pão fresquinho pra saciar o que não se dá mais. E essas, inúteis vão tomando seu tempo - em momento algum o perdendo, se divertia fazendo.
Um dia destes que qualquer um mais corajoso renunciaria a toda crença e se poria, de ato, na suficiência: mais uma vez desceu o elevador pensativo na agitação, mas quieto e aflito no silêncio interno, que teimava em persegui-lo. Abriu a porta, desceu para rua. A Parede o entendia sussurrar de novo os mesmos versos escritos por uma mão fraca em poder de uma caneta infinda.
O tal garoto não vingou, enquanto via o mesmo estranho intruso e sádico num momento oportuno de vingança.
Uma agitação na Rua Parede que'u não esqueço. Mesmo vendo daqui minha própria vida, que deixei de viver a muito tempo.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Clichê dos surpresos

"Como pude?", eu sem todo aquele amor que dei, me senti sugado por uma coisa que vai além de minhas senhorias, até daquilo que não sou dono me é arrancado. Sê-lo é difícil, em notório. Por demais, retiraram-me os defeitos, triviais e ségridos. Depois de poucas horas me lamentando do furto, olhei bem nos olhos vazios - porém agora fartos - do assaltante que retrucou de forma imensurável, um regozijo pelos fatos da madrugada afanada.
Em meio a tudo, seu último ato angustiado, foi encarar-me com pena, satisfeito e embabecido pelo meu amor, tão somente, escondido. O navegante dos meus mares pensativos, agora não mais tinha o leme em seu poder, o medo se instalou no meu coração pela ausência. Então retorci-me diante aquilo e gritei um ruído quase silenciado pelo horror.
Por fim deixou-me indefeso no canto do hospício metafórico, que se chamou; antes de ir, me disse uma frase afável e egoísta, que por mal, endoideci de paixão. "Porque de pouco me fez, e de pouco serei, só por te fartar o bom.", disse minha última.
Foi-se, então, perdeu-se em meio toda aquela claridade e retrospecta, vagarosamente, caminhando com as pernas, não com a pressa.


"Reflitamos"

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Realidade Fantasiada

Um buraco no meio do mundo, saí eu de um fim que dali se tornou início. Fui num mercado e pedi amor por encomenda, o atendente me lastimou a pergunta, respondendo com uma feição nada amigável. Eu repedi e ele, enfim, começou o sermão:
- Não se compra essas coisas aqui, meu sr.
- Como não?, respondi abismado.
- Isso é sentimento, não tem preço e não se encontra em prateleira.
Ainda muito confuso, agradeci a atenção, mas virei com certo ódio da resposta. - sem querer saí com a mercadoria errada.
Fui logo descendo e subindo as escadas desordenadas da cidade que não me encarava nos olhos. Na próxima loja; comecei:
- Pode me dar um amor?
- Aqui, meu senhor, não é hospício.
- Como assim? - já frustrado.
- Por favor, não amole. Vai comprar algo?
Saí da loja com sinais de dúvida. - mais uma vez comprei o que não queria. Na rua da vila movimentada eu vi lá no fundo uma mulher de poucos acontecimentos, sem senhoria nem nada que lhe trouxesse respeito. Ela reduzia-me em um ser qualquer e ordinário. Achei que uma pessoa assim podia me dizer onde conseguir um amor.
Então não evitei, fui logo perguntando: - Você vende amor?
- Vendo sim!, respondeu a garotinha.
- Que bom poderia me ver um?
De prontidão levou-me ao fundo de uma rua e lá se despiu. Eu já gostoso do ato, não recusei. Quando fui me desvaler daquele cabimento, ela me repudiou e disse:
- O que queres?
- ...
- Não queres Amor?
- Quero sim.
Depois tomou-me as mãos e olhou em meus olhos. Aquelas luzes fortes que saiam de seu sorriso inanimado hipnotizou-me.
- Toma-me e leva-me como teu amor.
- Como?
- Leva-me como sua.
Com todo o rebuliço eu a usei. Mas depois de violada ela me olhou e resmungou taciturna:
- A partir deste, sua descendência nunca mais chegará perto do Amor.


"Reflitamos"

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Confusão de rua

Nessa ruazinha de pessoas apessoais e com pensamentos humildes, nasceram duas crianças, Clarice e Daniel, seus pais eram daqueles que todos conhecem, com costumes tradicionais e tradições costumeiras. Dias ensolarados de férias. Foram os necessários pra tirar toda ordem da Rua Saramago. Mas voltemos um pouco na história. Os filhos tinham toda estrutura que precisavam, campo, rio e animais, uma vidinha de interior que acarinhava qualquer olhar estrangeiro.
Clarice, astuta, sempre brincava de descobrir, com suas mãozinhas fez o diabo, marcas na parede até no lençol do colchão. Já Daniel, tranqüilo e com pouco atividade, fazia o que pouco lhe agradava, lia muito e pensava demais...Fantasiava-se e transportava-se para estórias que sua mãe desconhecia.
Então, por fim, a confusão. Ele e ela tinham muitas coisas incomuns, não agradavam olhares mediadores, mas nada de mais aconteceu, até que o patriarca encontrou o menino sentado no banheiro, satisfazendo seu instinto feminino resguardado. Já Clarice, a pegou se amassando com a prima a noite no celeiro, suas atitudes foram tão fogosas que seu pai desconfiou: "é demônio!".
Com essa notícia se espalhando no vilarejo a mãe Odélia não se conteve e enforcou-se com o avental de cozinha. Tamanho desgosto sobrou, todo, pro pai Osvaldo, que também tentou, mas o que conseguiu foram só algumas fraturas. (tal motivo pro apelido de azarão)
Aqueles boatos tinham pernas próprias, mal precisavam de fofoqueiras, se proliferaram com praga. Caos, tomaram conta de outros encarcerados mentais...
Houve o que houve e todos, até hoje, culpam Osvaldo por toda aquela desgraça. Daniel se assanhou com o padre da igreja, que largou a batina pra ser passivo. Clarice desbancou, pegou violão e gritou ao mundo suas posições favoritas. Osvaldo tornou-se imortal, como punição, feita por um macumbeiro da vila. A cidade foi extinta e sobrou, tão somente, Osvaldo, espectador de desgraças.

- Rua Saramago mudou de nome. Quer dizer, não existe mais, mera lembrança de amnésico -

"Reflitamos"

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Diga-me mentiras

Lucas foi sempre um cara muito inconstante, ora era muito sincero, ora era corrupto. Só que essas coisas ninguém via. Era só olhar nos seus olhos que logo se perdia no incógnito. Diziam à ele palavras de consolo e ele vomitava agradecimentos, mesmo sabendo que a real vontade era fazer-lhes de gato e sapato. Usa-los de forma compreensível. Falou com mamãe e disse que estava feliz. Defendendo a única coisa em que acreditava, ignóbil humano. Já desistira, não iria mais fazer ou pensar em melhoras aceitou como um cristão as coisas de seu senhor.
Bruna o contou as coisas que ele pensava; repleto de ódio pela invasão surrou a menina e tirou-lhe a vergonha da amarga secura.
Logo depois ele disse baixinho: - "sem mesmo você querer, eu te disse: me diga mentiras"; a garota largada respondeu com suspiro sádico e balbuciou impronunciavelmente vaticínios funestos.
A profecia o fez pensar; de como é bom ser um resto com vontades saciadas e deslumbre da calúnia.


"Reflitamos"

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Homem pra todas "a hora".

Num restaurante caro - mas caro mesmo; jantavam um grupo de amigos, dois homens e uma mulher, a mesma ofuscava todos pela beleza. Ele queria demais o que sempre todos fabricamos nas horas vagas, de imbecilidade conectiva. Queria gritar aos cantos com ela. Estavam sentados, claro, no barzinho de espera, porque caro já nos traz a frase "difícil de achar lugar", mas tudo bem, era essa hora que tinha pra dizer o que sempre quis, que amava. Tudo conspirava contra Gustavo. Rodrigo era mais desenvolto e extrovertido; ele só tinha paixão insólita por Flaubert. Ela, digna de um deus, com aquela melodia que chamavam de voz, seda auditiva.
Começou lá a batalha. Rodrigo logo começou discutir coisas que a agradavam e Guga quieto, inerte à situação. Então foi um punhal no peito. "Quer namorar comigo, Cê?", desmoronou por dentro e regurgitou um sorriso. "Filho-da-puta, como pode fazer isso comigo?", pensou Gustavo aterrorizado. Cecília sem palavras, riu da situação; sabia de sua beleza indimensionável. Então o corno-sentido, foi ao banheiro sentou na privada e defecou lá mesmo seus devaneios. Enquanto isso, O casal discutia como fariam, ela ainda não aceitava, mas ele já levava como certo. Passou 10, 15, 20 minutos e nada de Gustavo. Começaram a se preocupar, "Cadê esse otário? O invejoso já fugiu e nem mesmo vai ver minha vitória", Rodrigo se vangloriava em segredo, olhando de tempo em tempo pra menina linda. Foi então, que ouve-se um grito! Todos assustados - apagaram-se as luzes, o corpo do garanhão estava estendido no carpete chique com um furo nas idéias. Cecília gritava feito uma violentada, e Gustavo atônito balbuciou algumas semi-palavras. A perícia veio, não tinham provas, arquivou-se o caso. Rodrigo tinha muitos inimigos, ninguém gostava dele, isso ajudou no mau caso da polícia em achar o assassino.
Depois de algum tempinho digerindo a boa perda, Gusta levou Cê pra casa, na porta, no último abraço ele ouvi bem sussurrado, "Fui eu, amorzinho". Ele olhou pra ela espantado e sorriu malignamente. Ela retrucou, com um piscar de olhos insinuando seu tesão. Então confessa, "eu queria tê-lo matado, Cecília! Nem nessas horas posso ser homem? Porra!"
A garota riu descarada e gemeu, "Tu é um frouxo gostoso, só isso..."
Os dois se beijaram, entraram e - até que enfim - Gustavo fez papel de homem.


"Reflitamos"

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Fartando doidos

Esse era alienado. Ricardo. Tinha vontades que ninguém entendia, queria ser encontrado na rua e - vai saber - reconhecido por algo que tenha feito, ou até não. Um dia destes, esses que a gente nem percebe que passa, ele estava andando na ruinha perto da sua casa quando, então, uma garotinha minúscula, comparando com seu ego, que inocentemente estartou a falar: - Olha, você não é aquele que fez algo de mais?
Aquilo o saciou, mas o próprio nem quis mostrar o que sentia. Depois dos instantes em silêncio o alienado responde indiferentemente: - Sim, sou eu mesmo. A menina arregalou os olhos e saiu correndo em direção da esquina mais próxima. Ricardo continuou andando, curtindo as palavras da singela garotinha na sua brasa mental, alimentando-a.
Lá na esquina, a menina encontra uma mulher, já senhora de experiência, que lhe estendeu a mão com alguns trocados, que de prontidão a sapeca aceitou e sumiu no horizonte.
Com Ricardo ainda em vista, a misteriosa sorria ao ver seu desejo cumprido, mesmo que comprado, os passos do rapaz a contentaram...
Por fim a senhora sentou no chão com pensar alienista e balbuciou qualquer coisa na esperança de achar outro doido pra fazer feliz.

"Reflitamos"

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Toda a história

"Marina. Garotinha sem preconceitos, adora as novidades. Ah, que menina, viu? Linda, com curvas que provocavam até padres, quer dizer, eles são os mais fáceis, provocava até gays. Ela tinha pensamentos torpes de manhã, profanos de tarde e luxuriosos de noite, ou seja, uma depravada, só que enrustida. "Toda mulher é uma prostituta em potencial". Ela gritava de noite por não ter conteúdo, revirava-se em sua cama.
É amiguinhos, essa era mais uma.
Sumiu. Ninguém procurou, só ficou na lembrança daqueles que a tiveram."

- Pronto, amor! Já me saciou a vontade de ser uma quenga...


"Reflitamos"

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Não gosto de poesias

Agora sim, tá tudo acabado
Corpos no chão
Que valem algum tostão
Sinal que tá tudo errado.

Lógico imbecil -
Não seja assim tão vil -
Se acabou
É sinal que alguém errou

Mas lógico,
disso eu sei.
Vivemos num zoológico,
como reféns.

Gente garota e sem experiência
Rouba seus bens.
- Disso eu sei -
Então, qual a vivência?

Animal, seu tênis -
O que tem meu tênis?
Está desamarrado.
Ah, obrigado...

(O garoto o empurrou e roubou)

Realmente, amigo.
(Falo comigo)
Está tudo errado.
E ninguém pune o culpado.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Persuasão

"O professor pediu pra gente galgarmos os degrais sempre que possível for." com essas palavras Nelson Rodrigues divertiu-se em suas crônicas, Papa fez orações e até a Sônia disse que era obra do maligno, todos temos infelizes frase, não? Mas agora, será que ter só frases infelizes é privilégio do nosso presidente?


"Reflitamos"

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Surdo, jamais.

Dirigindo à caminho de casa, Simão, pai de família e bom esposo, escondia de seus amados um costume condenável por sons, sentia-se sinestético. Ouvia ruídos do rádio, das palavras de seus acompanhantes e tudo aquilo fartava o vício imensurável, até o momento.
Conflito de carros. Rodas ao relento do ar, partes tão distintas agora se encontrando na dança da morte. O carro de Simão voa - o carro realiza seu sonho, quebra-se e morre feliz - ao olhar para o lado o homem vê sua prole dilacerada e sua mulher em posição profana, agora era ele e o som.
Os correspondentes ao acidente já não o saciavam, até que então percebe o corrosivo som do fogo que delimitaria sua vida, dificilmente gozou ao ouvir gritos de desespero.
Seu último momento. Esticou o braço como pode, aumentou o volume do rádio.Escutou e deixou de escutar...


"Reflitamos"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Benevolência Policromática

Davi, um garotinho bem bacana, gostava de meninas como se fosse um adoidado, sua estima era tanta que queria experimentar; experimentou, mas quis, logo, trocar.
Até quando o interesse instintivo - se...cofcof...xo - do ser será reprimido por nominhos mais afáveis?

"Reflitamos"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Terra das Frutas

Era em uma esquina com duas ruas muito movimentadas que Prefeito foi pego consumindo a luxúria, bêbado e com as vestes todas manchadas de batom e libido. Parou na primeira página, com direito a foto pousada - pelo menos por parte da garota...de programa. Sua vida não era fácil; saber reger uma cidade não é trabalho de Jeca, mas toda essa dificuldade mostraria que não era o bastante para tal "liberdade de expressão".
O Prefeito tinha lá seus defeitos, estudado e bem crítico, andava na rua dando tchau's à todos que visse; só que pecou ao cumprimentar Doralinda, a tal garota. Ela logo se jogou ao seus braços desculpando-se e culpando o degrau tendencioso; convidou-a para encontrarem-se sem mais delongas e ela aceitou, fingindo uma timidez que beirava atuação mexicana.
No encontro. Trocaram olhares, e carícias por debaixo da mesa, ela já sabida da lascívia, o divertiu com quentes passadas de pernas. Logo o levou ao motel de sua freqüência e lá destilou-se o tesão enrustido nas horas passadas.

Doralinda, no final, despediu-se, sem dar-lhe esperança. O Prefeito a fitou e suplicou: - Por que?
Redargüiu a mocinha da vida: - Não é o bastante.

Terra das Frutas nunca mais vendeu bananas, pois a fruta lembrava - vai saber o porquê - seu fracasso. E que homem suporta a recordação de sua insuficiência?


"Reflitamos"

Rasgação de sedas

Rasgação de sedas