sábado, 6 de dezembro de 2008

Num trem qualquer, vago e rápido.

Rápido e quente, foi o tiro de disparada. Disparei, esperei a morte me chegar sussurrada e bem calmamente o dono-da-verdade me viu de soslaio.
Nada mais se resume em poucas palavras.
Apenas o que vivi de bom, podem ser ditas em breves segundos: "eu não vivi."
Desde lá, sou eu quem lhes tira o que há pra se viver.

domingo, 7 de setembro de 2008

Da minha vida só trago seus olhos no bolso.

Se tudo fosse tão simples, que toda a imensidão virasse chácaras. Se tudo virasse a simplicidade de uma cidadezinha do interior, onde os peixes nomeiam; Mais do que qualquer coisa eu odiei o meu amor e amei o meu ódio - seja lá o que for isso, e se possível for.
Primeiro cravei a faca em meu peito, enquanto ela olhava; cortei-me os pulsos jorrados, ao tocar de suas mãos em minhas coxas; torpi-me tão somente com o fitar; com o alisar das madeixas minhas que agora tomavam a cor rubra. O velório foi simplório. Mas o que de fato o leitor vai querer saber é o que tinha eu em meus bolsos. Onde tenho de si o meu próprio. Brilhante esmeralda. Trouxe pra mim a única coisa que furtei-lhe em vida: os olhos. Tirei-os, um de cada vez, indolorosamente. Com as mãos sujas de seu suco, embebidas de palavras sem nexo. Assim como as que profiro, melhor, as que escrevo. Imaginem comigo, seriamente, o sangue escorrendo nas vestes e a cada centímetro percorrido deixasse escrito algo.

sábado, 30 de agosto de 2008

A mesma prosa do homem feliz

Dera-me ser feliz por tempo limitado, sabendo seu fim e início, para saborear o seu meio. Minha tristeza é branda e permanente, por outro é felicidade, faço feliz aquele que tira de mim o meio que saboreio; eu fui a voz de algo bom, de algo que se quebrou, cedido ao agudo dos gritos. Veio de mim a vitória das palavras que não são ditas, que são, outrora, engasgadas pela mulher que tem os nossos corações, por não ter mais a quem. Aqui está o beijo que tanto quis de mim; buscai-vos. Nas ruas, procurado pelo caroneiro. Aquela mesma gestação do filho perdido. Em algum lugar eu encontrarei meus descendentes mortos. Onde a minha finita felicidade me deixou o canto de espera, atrás do mesmo prospecto da gota d'água. Fui comprar estórias, com as prateleiras abarrotadas, escolhi a dedo a que me aturdiu; por Deus.(!) Se alguém me tiver, que me oprima nas mãos de suas escolhas, nela deitarei todo meu escravo. Siga-me neste caminho onde a única certeza que terá é a tal da infelicidade, punida e brilhante aformidade. Não se tem noção de sua extensão, nem de sua (?). A minha é de superfície, dilatada pela profunda vontade de aprofundar as coisas. Eu procuro lugares onde achar o que não sei procurar, a criancinha que revoga seu bichinho sem levantar-se. Não tenho, porque minha vida foi tirada de mim; deixei-a no momento em que a primeira frase escapou.

- Tão somente a noção de que minha carta estava terminada e a vontade que sempre tive foi consumada: a minha morte descrita num pedaço de papel que meu amor procurava. -

sábado, 23 de agosto de 2008

Não as conheço como me conhecem

Foi que eu me vi na situação de interrogado, perguntaram o que me recordava e eu soletrei seu nome, aquele sonoro nome que me vaziava. Sempre me ensinaram a dissimulação do que pulsa, no mesmo instante engasga-me. Passando na frente daquela vendinha onde sentam os vividos e os vivãs; foi ter com o céu. Notaram-se os olhares alheios a situação intimista. Da coesão mais que corriqueira, de pôr a tocar a mesma sinfonia, mesma nota, sustenido ou branda. Enquanto remoía o amor que tinha falado à falsa amada, no qual seu coração eu ganhei sem querer. Não existem enganos no meu romance, não há de aparecer nenhum amor-fantasma para assombrar-me no leito do novo, há, sim, de haver restos, sobras e migalhas dos velhos, mas estes serão queimados no altar em que eu mesmo fabriquei enquanto ditava - baixinho - no canto da orelha o amor. Cá está a voz, esta. Devero, sempre esteve. No mesmo quarto, caverna, onde deitei aos braços da montanha, seu leito; as virtudes me foram tomadas e cuspidas em face, língua ardida e venérea. Eu finalmente vir-me-ia na calmaria do ódio, mas aturdi-me. Tão somente a falta me foi o bastante, tampouco a rotina de olhar o mesmo quadro, na mesma hora em que te querer rasgar. Com licença, Poética. Sem ela seria um mero papel brando de voz.
Mas a mesma branda voz que ecoou e escorreu nas paredes das cadeias. Conhecer-me-iam se não tão difícil fosse me alcançar nas rochas.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Brincadeira de Bicho

Eu ouço as mesmas notas que me deprimiram antes, provando que as venci, que a ferida já se foi, mas ainda persistente tento tocá-la com o dedo infantil. Perfurando a razão de querer ser feliz, indaguei à lua se ela me daria a chance ao que os meus prometem às suas. Disse-me estar cheio de recados às donzelas - debruçadas no parapeito-terapeuta. Escolhendo a dedo as virgens que choram, aos lagos feitos na discórdia do não-querer. O que ele me disse. (?) Não mais obstante, ele começou.
Precisou reverter-se. Não teve a chance de olhar nos peitos daquela que prometeu dar o Céu e as estrelas, não abriu o sutiã estrelar; o universo à ser descoberto. A matéria-negra, não mais.
Descobriu em si próprio o monstro-debaixodacama. Escondido em seu coração, o mesmo assustador que não gosta da luz dos olhos daquela donzela, mas corre atrás dos seus anfíbios. Com a rede sedenta, esperando o primeiro grito de socorro do coração silenciado pelo seu falar forjado. Diria assim:

Carta a mim.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Voz sedosa e peitos de vadia

Eu quero a vadia dos amores, pra manchar o coração com as feridas que me foram postas, e eu conivente e sádico não percebi que eram em mim. Tornou-se e retornou-se, coração dos olhos juntos, viu amor que não existia. Pôs-se em olhar arregalado e provocou a vadia com o sorriso de preço. Orações engasgadas e línguas inintendíveis com os sotaques da variedade amorosa, ou do ódio iminente. Eu gritava aos céus que não queria mais amar, que me tirasse de lá. A ausente sensação, me deixara antes de encontrar-me. Eu tivera a qualidade de sempre me deprimir, com os pensamentos dos débitos, procurei o sofrimento e ele acomodou-se. Eu desejei amar todas, mas de fato não sei amar, de tanto querer, me vi na situação da impotência de nunca poder dizer eu te amo.
Diriam-me que sou molestador, com os adágios prefigurados às mulheres; não desmentiria. Queria sussurrado o amor escrito e rabiscado o amor de atos.
Sempre que vierem me dizer se quero uma voz, direi que quero a do sentido, aos peitos da mesma vadia que falo com dor onde não se pode avistar.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Monólogo do pai da mulher-mais-linda-deste-mundo

Ela nasceu e a vi com os primeiros olhos, sua formosa noção de sorrir, seu choro maestrado pelo doutor. Saí do hospital, aos braços de minha filha que tanto sorria, risada gostosa, contagiou a mãe.

Curiosa, foi ter em todos os cômodos uma história pra contar ao amigo imaginário, disse, “voei mais alto que qualquer pássaro já voou”. Nesses instantes estava eu de espectador, sem controle de fala, quieto e inerte à situação. Qualquer ranger de portas tirava-me a paciência, estava em um espetáculo.

Mãe começou a não me ver mais. Pegou-me ao lado da criança deitado, dormindo; Bastava a criança sorrir e o pai ia atrás de qualquer que fosse sua vontade.

Cresceu mais e tornou-se formada de curvas e olhar lascivo, eu a trancafiei em casa, não saia por nada e pura iria ser até que a morte me levasse, antes disso nada a usurparia. Sua mãe olhava com um olhar que eu não entendia; meio cerrado e odioso. Escarniava a qualquer sinal da bela filha. Ao sair pra trazer um de muitos dos agrados à menina, cheguei e o silêncio roubara-me o sossego. A porta de minha menina violada; já aos infernos entrei e lá estava. Jorrada de sangue minha perfeita filha jogada ao chão com o peito perfurado pela mão materna. A mãe com o olhar satisfeito, ao me ver começou a despir-se e eu pasmo, dei-lhe um juntado à fuça. Ainda com fúria, matei-a aos ódios; sussurrando a vida que lhe restara, me disse, “matei a mulher que tirou você de mim, eu não deixo ninguém contigo, Bernardo, ninguém”. O último fôlego foi para dizer que me amava. Depois com a menina em meus braços ensangüentados, falei no canto da boca, nossas maçãs-do-rosto encontraram-se no pomar melancólico da morte. Ela ainda bela com os olhares fixos no pai, que lhe trazia a felicidade a cada fitar fugaz. A vida levara minha única vida. Debrucei na garota de sangue. Dormi em teu leito e hoje conto a estória, esta, ao lado dos mesmos demônios que a tiraram de mim. Sou o pai da mulher-mais-linda-deste-mundo.

sábado, 19 de julho de 2008

Toda criança é inconveniente

Ela pulou do sofá, pensando não haver, ao tocá-lo, seus sonhos a deixaram. Tornou a subir no sofá, até o chão ceder, não cedeu. Então parou, estática na porta de vidro da varanda. Vendo os pássaros-maquinados cortando o seu, contra a brisa do chão. Pediu pro Sol a lembrança do rosto que não sabia ter. O mesmo pedido ao espelho que lhe retribui, em troca um sorriso sujo de leite.
São quatorze horas, seu pai foi comprar o almoço, enquanto ela pulava incessantemente, não sabia o porquê, mas falava ter ódio da terra. Quantos mais ela teria que saltar pra ser de fato completa, levava na cachola a obrigação destes. A inocente não parou em momento algum, até seu pai chegar. Com os pratos, em que se comiam com os olhos, sentou-se na sala de jantar, lambuzou-se com a macarronada trazida; Já jazida de toda a fartura foi ter com o mesmo Sol, que agora estava cabisbaixo. Fim de tarde ela o viu morrer na costa, onde ressurgiu como fênix, Lua.
Olhar fixado, pulou do abismo e caiu na estrada. Deixou bilhete: "Fui encontra-lo, deixei-me ir pelo Sol que me chamou."
Andou léguas, pulou as pedrinhas do caminho. Chegando na tal costa, encontrou: fitou a imensidão e ele com um sorriso na voz. Voltou caminhando, sem tirar o pé da terra batida, dizendo: "o amor não é o que procuro."

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Tentei cronicar

Comentários ríspidos e mentirosos, nunca teve amigos, de fato, teve muitas meninas, mas não cheguemos nesse mérito - porque este é de outrem.
Lá foi o menino destilado de palavras feias gritar na rua com os pobres meninos pobres. Pensava em: nada igual. Queria mais do que todos, menos que todos, e justiça, quando lhe fosse conveniente; na rua da avó morta, corria impetuoso, com os cabelos ao vento imaginava-se vilão. Com a donzela usurpada, de cócoras ao céu, resplandecente visão infantil. Inocência que assusta. A criança vivia ao prantos, para que lhe fizessem jus a tal brincadeira; o momento passou, somente, flutuou.
Tornou-se, viu no fim da rua o amigo, de seu lado a doce menina. Julinho possesso, vontade Possuir. Passou...Passou, comeu...Passou.
Na frente da casa de D. Melinda, que tinha um olho faltando e no lugar usava o do marido; Júlio, agora mais velho, veio pra brincar de médico; e de consultório, D Melinda não deixava seu quintal usar. Convenhamos que nosso leitor sabe que de nada adiantou. O rapazote chegou por de trás, duas aliás.
Na musiquinha que eu tanto tento cantar à vocês; fica o ensejo, mas não meu sucesso.
Passou-se mais, outros se foram, esses chegaram...
Julinho sentado na bera da calçada, roendo os dedos e mastigando os seus pensamentos.

Ele sempre quis ser assim, mas era gostoso. Então já viu.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Shakespeare não me ensinou a matar

Doído sempre me foi, não ter um cúmplice só meu. A luz acesa não vence a escuridão na nossa frente. Diziam para mim os fieis, que de nada fazia sentido o medo incrustado no meu sorriso. Eu olhei pra ela, e não a vi companheira. Estava só. Amando só. Pensando nela: acompanhado. Milhares de fitas envolveram a brisa do andar, donzela caminhara. Donzela me amara. Ama ainda? Eu sou romancista há muito, venho ter com os sentimentos desde que olhei para eles. Ela tinha que ser minha, tão somente, minha. Ou pelo menos mentir pra mim, dizendo ser. Não; faz questão de olhar à todos, sorrir à todos e, o pior, amar à todos. A minha heresia foi amar sozinho, ter nela todo meu adágio, sublime e torpe. Seja na manhã ensolarada, luar de madrugada ou entardecer do meu sono. A musa, não mais minha, já tinha outros amores. Outros afagos, prelúdios de noites de amor. Violinistas, machetes, liras, harpas...Ao som orquestrado pelos seios da mulher que amo. Assistindo a tudo isso, meus olhos converteram-se em chamas e miséria. A seca de tempos atrás se fez contemporânea. E tudo que tinha vida, tornou-se em morte, não morto. Morte em si. Fez uma arma em minhas mãos, o soslaio olhar da donzela me achou. Ceifada de todo aquele cabimento; ela suplicou. Não consegui segurar-me: caí aos seus pés, submisso a tudo aquilo. A face com desejo, expressa para todas as mulheres. Aos homens coube a luxúria da solidão. De mim fez-se cinzas, de meu coração um púlpito. Antes mesmo de subirem ao palco, o furei. E todo o sangue estava manchado de dor, mas meu último sorriso foi dela. E ela retribuiu. Depois foi ter com outros rapazes.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Narciso no Olimpo

Peço licença aos felizes,
Licença de novo. Saia, por favor. Ao voltar espante-se ao ver-me no canto da sala vermelha, com os olhos virados e pele estranhamente pálida. Ao me verem: Saiam, de novo. Mas voltem, quero relutantemente ver vocês com os olhares velhos. Espantaram-se? Saiam. Voltem. Quero que a pena atribuída a mim, seja sem razão, com naturalidade. Sem surpresas.
Fitem-me sem explicar-me.
Com o amor deitado ao meu lado, também morto, abraçado comigo. O romance de voyeur, com os olhares abruptos. Escreve e alterna o fitar interessado. "Não me faça cometer o mesmo erro. Só me diga quando, quando vou poder tê-la ao meu lado sem erros ou acertos, ou até quando, eu vou ter que escrever as nossas aventuras, a cada acontecimento me passar o adágio de uma possível história de amor.". Lágrimas vieram a seguir, com um toque sutil de dificuldade, o som ambiente e a escuridão da sala, trouxeram a amargura de um momento a mais.
Não terminado, obstante ao rigor do instante o coração brincou com o carpete, o romance deitou-se.
Todos viram a peça de Eurídice, com suas dádivas a mão. Tebas deixou o conflito com Hércules, pra me assistir. Meu desejo acabou em suas frentes, enfrentei. Hera me deu alento, acariciou-me os cabelos.
Zeus, prepotente, pensou em si. Hera me levou, ao seu quarto, fez-me deitar. Fizemos amor. Ela disse que me amava. Meu coração voltou em si. Agora, na garganta uma forte mão lúbrica.
Saí com a marca de uma amante divina, não a quis mais, meu coração mortal pertencia. Não mais: a ninguém.
Eu fui Zeus, ao menos na cama, ao menos uma vez. Narciso era eu.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Disseram que eu não sei escrever romance

Não me deixe assim, sem palavras pra dizer ou qualquer gesto pra escolher. Aquelas mesmas, rasgadas ao saírem, sem eco ou até mesmo sôfregas. A aurora de mim destacada do coração, dilacerado este por desejar a incógnita a frente, abismo ou cachoeira. Desprezava-me, abaixava a fronte e dizia as mesmas, sempre, sem dente, sem lábios; com, mas secos.
De frente, adiante, exitando tudo e nenhum gesto meu, falando carícias e passando em mim as sérias. Serias tão digna. Inclinei o rosto, a música estridente do corpo em conflito, gemido.
Agora só cinzas, que nunca mais regozijariam da vida novamente. Fênix teve seu fim, lento e gostoso. O peixinho dourado com memória fotográfica. Olhou pra mim, sentiu mágoa até seu fim, minha feição de bom moço, de costas, e testa franzida ao virar para o aquário vastidão desconhecida do pobre nadador, que na cachola só meu pesar tinha.Vi meu amor chorar as lágrimas falsas que amei ver, a mentira me interessou e fiquei contente ao vê-lo.
Eu não sei dizer sem mim, por isso não sei escrever romance e se sei é só pra ganhar em troca a noite de alguém. Seja poesia, mas que seja concreta enquanto dure.

sábado, 21 de junho de 2008

Voltei a matar

Descasado. Sem compromisso com os lábios, apenas de olhos nos olhos-baixos das mulheres que por mim passavam. Na memória só uma, mas comigo, lá; comigo: nenhuma.
Eu queria só pra mim aquela dor, só pra mim, que fosse auto, não provocada.Não-provocada. Que ninguém fosse culpado da minha parafilia. Minhas síndromes, suma, minhas. Meus torceres e piscares frestados daquele sol rubro de fim de tarde. Com as afiadas a mão, e teu corpo lá na cama esperando-me, com o suor. Deixei-a, a linda, em cima da cabeceira espreitada de segundo a segundo com canto do fito. Conhecia o morto, com as mãos que ainda eram impedidas, com as antigas mordidas. Ela sabia. Não fugiu. Abriu os braços e me disse que estava pronta pra receber-me, seja, encardido pelo amor festeiro, que no mesmo dia consumira meus doces da memória, mas esqueceu um. Aquela raiva voltara, bateu a porta e entrou, porta aberta. Caminhar devagar, não parecia ela. Chegou no peito, pulsante e dolorido. Encostei na lâmina e olhei o reflexo da escuridão, que inclinava a cabeça. Feri, o primeiro correu-se, a gota incrustada no meu tórax, também começou a jorrar sangue; Elas chorosas gotas de sangue, que corriam do corpo meu ao corpo dela. Sem permissão, começaram.
No dia anterior a vi. Com outro, negando e sorrindo. Sorriu à todos na sala. A faca pediu permissão, não foi descortês sua maleficência. Voltamos ao agora.
Sublime amor que ela dizia no canto do meu ouvido, intercalando gemidos e respirações lascivas. Ela infiltrara-se. Também, com o amor da minha lâmina. Mostrou-me suja. A cabeça saía do lugar, tempo em tempo, tão somente para procurar de volta a vida que fora tirada. Mão a mão. Faca a faca.
O último beijo. Com os lábios roxos, de ambos. E com o último suspiro. Este: louvor meu.

sábado, 7 de junho de 2008

Meu mero amor travestido

Entreaberto os espelhos, refletiu a face obscura de uma tocaia. Com o peito cabisbaixo pela falta de amor. Minto, pela falta não, por ser como era: cheio de batom, com cílios grandes e sombra profana.
Nos palcos este amor dançou; com garotas ou garotos, juntos ou não. Se depravava aos outros amores-vigias, com os olhares pequenos, frestados e medrosos.
De mim herdaram somente o corpo d'alma.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Minha estória gargulesca

Chamei o elevador, ele descia estranhamente mais lento, parecia desfrutar a cada andar que passava, com os perfumes de suas viajantes. Ele chegou esnobe, com a porta emperrou, mostrando.
Subi ao meu. Sentado ao relento dos pensamentos, interrompeu-me. Com o olhar tagarela, me puxou ao hall, com o mesmo soberbo elevador de antes. Dentro um homem garboso e sem graça. Virou pra mim e disse que não me amava mais. Indaguei a causa, conseqüência, e qualquer que fosse a pergunta, nexo ou sem. Derrubei à ela meu coração, que da boca usou de saída. Saiu encharcado da sovina amorosa e manchado daquele mesmo remédio que o fez sorrir.
- Você me amava enquanto estávamos juntos?; com palavras cortadas.
-Não...
O descaso e o sorriso largo na face da moça tirou-me o chão. Um abismo que não cavei, tomei pra mim.Tornei a ela, e a paixão só crescia, não cessava. Deixava mais profunda a ferida. Abri a porta. Ela apontava pra ele e dizia convicta: - Esse que eu amei, e amarei.
Tornara-me um elevador, que de tempo em tempo, tão somente, saciava o amor pelas donzelas que adentravam seu coração, passageiras, as mais belas. Aprendi a amar seus amores, porque dentro de mim fizeram as loucuras que tive de ver. Agora não mais, porque refugiei-me no dos outros; subi ao último andar do prédio antigo. Olhei para os lados, muitos cúmplices. Antes de mim. Diante, também. Todos à mercê de um respirar mais longo, ou adágio saudosista da boa época. Encarei o chão. Ele também me traiu. Abraçou outros e não a mim.

Nada sou...Um gárgula namorador de gotas de chuva. E, ainda...O Sol vem me privar.

sábado, 24 de maio de 2008

Malabarista de facas à plateia de arqueiros

Subiu no palco. Nariz sobre todos e olhar fixo no fim do último corredor, nem o passageiro medo tirou a disposta felicidade de estar no centro, no alvo.
Foram preparando as flechas, fintadas de fogo, sabiam que algo iria ocorrer, poderia ser de morte. Os violinos começaram, seguidos do suspiro ensurdecedor do malabarista com as lâminas a mão. Dispôs, aleatoriamente, com tão esmero que a platéia pensou que o show começara. Eram blá de lá, e cá: resmungos de bebê. Os trompetes anunciaram: começou a artilharia. Eram sinais de fogo em todo o teatro, o garoto regendo a orquestra, com a batuta afiada. Queria se fazer amar, mas a bailarina, seguinte, tirou seu tão mistério. O espectador não era mais o teatro, a levara pra cama. Enquanto sonhava com a transa, a platéia voluptuara-se aos pares e ímpares, sobre tudo em vários.
Uma faca caiu, cortou o véu da bailarina já quase despida com os olhos, o malabarista apreensivo, com fixo fitado na moça. Resolveram: "levaremos todos, conosco." O salto da dançarina, o jogar do artista. Pinturas ao ar. Impetuosos e flechados: olhares de flechas.

Fecham-se as cortinas. O show tornou-se, atua confidente.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Queimado em lareiras

Permiti, olhar nem que por só alguns traços de instante praquilo que você chamou de retrato, a beleza tão mensurada em um papel, me fez sentir ciúme do porta-retrato, que tão calma ela aceitou lhe segurar e apalpar-lhe o rosto. Contínuo, porém soslaio fitado da alma, teimou com a razão e os sentidos se perderam. Aquele pedaço de pano envolto no pescoço longo e pecaminoso. Trouxe em mim, mais de vez sua face diáfana e sorrateira, deveras. O retrato caiu e cedeu ao chão. Aquela bela, agora, em tão infame situação, gritou à minha misericórdia. Encostei aos poucos, dedo a dedo, no papel, virei assustado e vi a donzela que tirara meu fôlego. Tudo se ritmou. Eu a afrontando, ela consciente e com olhar fixo, não em mim. Mais adiante percebi o sonho que tinha posto-me e logo relutei em sair daquele gozo envergonhado, com as bochechas vermelhas e acaloradas. Mas de súbito, fujo meus espelhos àquele esconderijo aconchegante; percebo-a cheia de vontades, exibicionista, solta as madeixas ao ombro e olha, bonita. Abro-os e noto as notas que saem, sôfregas, dos seus lábios pequenos. Tão sedosos à vista, mas imperceptíveis. Da desilusão que tinha colocado-me, agora, pus a tirar-me. Ela me deu um adeus sem delongas e eu, ressentido, tinha descoberto o que é amar. Doeu mais em saber que na foto, era pintura. Arte esmerada: inexorável inexistência.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Garota das sardinhas

Ela toda linda, de tanto, que fazia os pássaros cantarem sonatas de amor, brincava de olhar discreta aos detalhes de cada homem, surrava os verbetes que saíam difíceis e assentidos. Com as gotas desequilibradas em seu rosto, brincando na brochura da alma com suas expressões vazias em tempos, e cheias noutros. Cada pinguélo que a vida lhe trazia era, tão somente, clara ou escura, lhe privava as cores neutras de uma paixão passageira; encarando o paraíso ela fez-lhe promessas dignas de um divino. Este a respondeu com a pergunta que lhe tivera mais medo em redargüir, com certas palavras de alento, doutros de escória.
Garota dos pontos na face, que desenhavam perfeitamente a forma do anjo que de noite ia lhe desejar, no coração nodoso, uma escuridão acompanhada. Tornara suficiente o amor que o seu sentira, nem por ela era. Encostava as maçãs do rosto no travesseiro molhado e logo sentia o vento quente subindo pelas pernas. Ao fechar os olhos, lhe trouxeram a visão do arcanjo profano e mentiroso; divertiu-se e brincou de contar estórias de amor para o anjo que lhe fez desacreditar no dito. Para a garota era de simples e concreto pudor pensar que o amor não existia. Ela se enganou, adiante viu: o amor a sua frente desnudo.

domingo, 4 de maio de 2008

Eu amaria NY

Suas torrentes que extravasam a rigidez da Parede, são visitadas os Parques centrais de forma obsoleta. Suas veias inabaláveis, que fazem os faróis parecerem torniquetes à hemorragia que passa em frente meu apartamento, enquanto olho pra traz e vejo a linda, dormindo, loira e sedosa. Com as covinhas das costas à mostra, seduziu-me sem querer, com as maçãs lascivas não me fez agüentar, ao mesmo tempo em que o mundo se colidia do lado da saudosista NY, que cobra atenção do olhar que foge pra garota das madeixas douradas.
Andei por onde o touro anda, andei por onde milhares pularam. Andei por essa cidade que não conheço. Andei procurando algo pra amar; não achei na mulher, não achei nas ruas, desisti de procurar.
Acabei por pichar em um muro qualquer: "Eu amaria NY"

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Um (de) repente

Casalsinho de pouca data, com braços assanhados por debaixo da mesa com medo de chegar à vergonha. Misteriosos olhares trocados e confundidos, que teimavam em levar o ensejo do beijo.
De frente a tela via os amantes se amarem, no desajeito da tentativa, Souza teve a triste idéia da cópia que mais tarde fez Débora enojar-se com a falta. Então começou a matutar mais, e outras, e mais algumas até que suas preces foram ouvidas. Débora tropeça e cai. Ali em sua frente, morta e ensagüentada. Ele pensa: "Se o que sentia era falso eu gostaria de saber, porque ser canalha sem saber é um dos pecados mais brutais."
O que mais posso fazer(?); erramos de sala. Não gostamos de filmes assim.



"Reflitamos"

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Mendigo orgulhoso em um hospital tenebroso

Estava deitado a espera daquela que o vinha visitar sempre, chorar em seu seio, a lágrima que teimava em ser sólita. Os dias já não mais corridos, pausados e refletidos, na agonia do desejo médico, com saias as enfermeiras o tiravam da castidade paralítica. Rodrigo saia de tempo em tempo, com o caminhar inexistente pelos corredores funestos do Hospital, trazia vez por outra uma lembrança. Na espera da garota que trazia sempre consigo belos olhos caridosos. Cobradores.
Dias correram, uma menina de curioso buscar, entrou em seu quarto e sentada no quanto olhou Rodrigo ter enlevos, que consentira em busca de atenção, a menina ateu-se, em passos curtos e descobertos chegou defronte a Rodrigo. Chegou perto de seu ouvido e falou baixinho as palavras de alento que o homem tivera de ouvir, depois, devagar, beijou-lhe a boca com a lascívia infantil que trazera. O homem sussurrou fraco e potente: "Se for pra ter amor, que eu morra antes", seu corpo o ouviu.
Morreu na frente da menina que sorriu na morte. "Se for pra fazer amar, que eu mate antes".

"Reflitamos"

sábado, 12 de abril de 2008

Estória de Israeis

Ele tinha um pouco de bafo e não conseguia pronunciar o "r", sua vida não era lá aquelas coisas, mas a naturalidade lhe trouxe o repúdio por outros. Fazer, de nada adianta chorar suas ausências, adianta é apontar as dos apontados. Natzi andava em uma vila pobre do subúrbio alemão, quando viu Dulcinéia conversando consigo. A vista não era tão ruim, descabelada, mas com pouca roupa roubou algum tempinho dos seus insignificantes; Seu avô era um bêbado que o gozava por ter um só macho, mas de nada atingia Natzi, garoto fiel ao seu pensamento. O de se matar. Mas cai lá, como pôde ele saber tais coisas e suprimi-las a ponto de não se matar, mas de chacinar a vida alheia. Divertira-se fazendo os outros inalarem as tais moléculas do veneno que estudou nos animomens. Ele tinha uma paixonite por Dulcinéia, mas fazer o quê?, a garota gostava de capadas.
A distração sentimental trouxe os tempos de glória, ouvindo Mozart gritou, pro primeiro que o passou, toda e qualquer vontade do coração. Sorte dele. Desapareceu na escuridão do quarto com o bafejar do parrudo na nuca; que depois de saciada constrangeu-se e saiu em disparada. Pronto, mas um que execrava-lhe os modos. Ele se encontrara com Lucíola, garota feia e bem chata, mas que não negava o xibiu a ninguém. Tomou-lhe as dores da feiura e acabou matando a coitada de raiva.
O Natzi então cresceu viveu mais alguns anos na década de trinta, com certezas e poucas dúvidas. Mas com a pior de todas: "Por que tenho menos machos?"

"Reflitamos"

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Injúrias de Ana

Então, pediu arrego ao Sol que respondeu-lhe ríspido e sem afago. Sem nenhuma medição. Deu pra ele o silêncio de presente. Colocou-se a coragem na frente dos seios grandes e soberbos, tomou-lhe nas mãos os artigos astronômicos e aventurou-se nas valas e vielas futuristas que procurou.
Xingou o Pai das Notas, injuriou o São João que foi seu muso. Foi ter com os reis o que tanto procurou nos plebeus; Sentou-se na primeira trepidação da rua, tanto a quis perto.
Entrou no trem, saiu logo à frente. Deixou dentro seu amor imaturo, tempos; se acostumou com a ausência inoportuna. Voltou ao mesmo vagão.
Viu defronte o mesmo amor, um pouco mais maduro com roxo no olhar e mãos coladas ao tórax, pela dor. Ao vê-lo derramou o sorriso no colo do visto, ele com ar de tímido deu resposta nas suas inteiras-palavras.
"Eu procurei você. Mas mais divertido era perceber que as mulheres são castas. Até que'u prove o contrário."
Nesse instante a porta se fechou e na outra parada o Amor disse as mesmas palavras, a mesma consciência, mas de outra mulher.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Não queimem as calcinhas

Rogério, machista convicto que tratava qualquer mulher com repúdio, como tratar um animal moribundo, seus carinhos eram só na hora do querer(?). Ademais nada se fazia respeitoso.
Um dia deu bofetadas na primeira menstruada que encontrou, depois de ensagüentada, em dois fluxos, ele observando suas súplicas e movimentos de misericórdia deu-lhe tudo o que a menina queria. A menina de lábios roxos e pele branca, só assim Rogério admirava. Morta.
No andar das horas, sua cúmplice consciência se fez sórdida e de nada mais adiantou lutar. Foi de casa em casa atrás daquelas que tanto tiraram o sossego da alma.
No quarto onde ficava segredando com as paredes surdas, um curioso menino viu o assassino pousar na frente do espelho com as roupas funestas.
No espelho estava grafado de batom roubado: "Não queimem suas calcinhas, dêem-me as."
Apalpava lhe o busto; na procura frustrada, viu o menino. Para próprio(a) se sentiu desejado(a) e de tudo que mais pensou foram coisas que os meninos não fazem.

"Reflitamos"

quinta-feira, 20 de março de 2008

As lembranças de Chopin

Arquivou-se mais um integrante do teatro da vida; puseram-se em expectativa. Teclas apaixonadas gritavam e ecoavam as súplicas do amor que estava por vir, e não chegava. De maneira de Frederic ficava aflito de tanto lhe fazer paciente ao saudoso tempo que lhe trazia brincadeiras de crianças. Onde pulavam os discos riscados pela chave tediada do seu coração disperso.

Tão somente, encontrou-se na beira do abismo em que tanto encontrou apego. O buraco soturno prometeu-lhe aventuras durante a queda.

Suspenso daquele instante. Não se lastimou da dor, divertia-se. Encarava-lhe quando viu a mulher, aquela que tanto o fez parnasiano. Brilho nos olhos, o fogo lambia seu corpo pornograficamente, agora, o sangue tomara proporções devastadoras, a cada célula invastecida pelo sentido lhe fazia tremular a cada palavra tentada.

Frederic agora sentado à frente o piano, tocou. Desfrutou de cada nota, cada pressão que sua mão fazia sobre os tais contatos, com certo desdém trocava-lhes na seqüência da perfeita harmonia.

O silêncio agora tirava toda ‘quela dor que antes mitigou seu interior confesso de vontades.

Calou-se e voltou a calar, até segurar pra si todas as notas pensativas.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Homem que pensava falar

Décio estava na varanda do casebre interiorano, quando viu passar o garotinho que lhe vinha tirando alguns minutos de pensamento. Ele imperou os vocábulos mais lindos que tinha noção.
"Ei, garoto, vem cá me dar algum tempo seu, de atenção!", pensou dizer o velho. O menino continuou o andar, cabisbaixo e reflexivo.
Virando, fitou seu servente sentado na ponta da escada lendo o panfletinho que a brisa tinha trazido, mais forte do que antes escandalizou o seu pensamento. "Ora essa, o que se passa nessa vila?"
O idoso mal encarado, levou mais longe e desintegrou a realidade em ilusões que jamais pensara. Desta vez se fez de vítima; Coronel malogrado. De tempo em tempo ele indagava o local em procura de um que o ouvisse. No outro lado da rua tinha em mesma situação uma menina, que como ele tinha o olhar vago e soslaio. Tampouco se passou e tudo, todos os instantes passados foram suficientes para que o senhor matasse o seu pensar.
Pensara milhões de vezes antes do suicídio psíquico que fizera poucos segundos atrás. A menina espectadora, divertiu-se a cada espasmo que o velho fizera, cada suspiro de dor inexistente e cada refugio que encontrara na morte. Seu último fixar foi divino, a menina que só via, agora escutava as súplicas do artista funesto.
Sentira ciúme infantil e gritara. Ninguém a ouviu. Agora, a menina que pensava falar.


"Reflitamos"

terça-feira, 11 de março de 2008

Onisciência de Zeus

A tarde era quase vulgar de tão linda, com os pássaros de espectadores, vendo o Pai-Sol dormir e deixar que se amassem nos cantos das vielas.
O grande Libertino caminhou entre as faces do caminho inconsciente e viu lá no fundinho da própria alma o rosto de Aurélia, generou-lhe o instante tão pitoresco que nem mesmo ele sabia dizer se tinha a completa razão de olhar com desdém tal forma perfeita.
Na insuficiência da suas palavras, arranhou alguns superlativos que nunca havia pronunciado. Ou impronunciáveis. Não ficou sequer um músculo imóvel, todos entraram na orquestra dançante do embaraço de Libertino, que fez papel de poeta pra tentar levar Aurélia pra cama, mas de nada adiantou só ela manejava o leme da dependência.
Ambos eram prostitutos da vida moderna que tiraria logo a frente as suas vidas, no mesmo instante. Para desfrutarem da volúpia com Afrodite de voyeur. (Shiu! Zeus não sabe.)

"Reflitamos"

segunda-feira, 3 de março de 2008

Acorde de um violino desafinado de um afinador impotente

Eu tentei de mil maneiras afiná-lo, mas só o que consegui foram calos nos dedos e uma dor, incalculável, de cabeça. Gurgel, o violinista, me deixou o instrumento confiando-me o trabalho por um prestígio que forjei com a ajuda de Glória, mulher minha, que sempre teceu elogios superlativos dos dotes imaginários. Glória pra me vender, chegava a se encontrar com o instrumentista pra que de fato me procurasse, e não apenas ficasse na cordealidade. Fui um dia, fazer-me presente dentre os adjetivos, quando de surpresa, vi na casa dos Linhares, Gurgel e minha esposa trocando carícias e conversas mais ao pé d'ouvido, chegando sorrateiro, espiei-os com olhos desdenhosos e acabei me divertindo com todo aquele gracejo. Entrei normal, espantaram-se e puseram, em mesa, explicações cabeludas; "Cala boca, continuem." Eles com espanto, levaram o ato mais a frente e entusiasmaram-se. Cabelos puxados, arranhadas e tapas...Neste cabimento, surtou-me um semblante de descoberta. Olharam com mais desejo, colocando tal sentimento como suas senhorias. Retirei-me por minutos, levei comigo o violino e enquanto o casal casual se desfrutavam, eu afinava em meio.
Notas tortas e desafinadas, nem o desejo - sentimento veemente - me deu a competência que precisei. Joguei-o de lado e juntei-me a eles.

"Reflitamos"

domingo, 2 de março de 2008

"Rasgação de seda"

Como nunca imaginei sequer ser lido, fui premiado e agraciado pela graciosa Roberta Andressa, que me indicou, graciosamente, pro "Eu tenho um blog de Elite". (Perdoem-me a galhofa)





Aqui vão meus indicados:
- Say And! (Principiante experiente)
- Baú do Vovô (Maturidade "in"útil)
- Fio Da Navalha (Suicide sua burrice)
Obrigado a todos que me lêem!

E como de praxe:

"Reflitamos"

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Vida finda de um imortal

Inesperado, sem muitos avisos ele veio caminhando pela rua, segurando sua cantoria que seria libertada no banho, minutos depois. Pôs-se então ao aventureiro instante de soltar alguns versos melódicos com certa timidez. Começou. Humhumhumhum... Foram sua prova de audácia, não mais suficientes. Encontrou na rua o par perfeito, só que muitas vezes, acabou por não escolher nenhuma.
Andou, divertiu seu púbis cansado do sedentarismo de suas pernas, que antes só herdavam dores de falta. Lá no finzinho de algo que avistou, sentiu-se vazio. Em demasia. Mero momento de idade.O coitado se colocou por vontade!
Aquele afinco recôndito em flagelar o pensar; foi logo visto em prosa pelo desconhecido que o mirava de relance, noutro lado da rua. O estranho riu, por conseguir reacionar o mínimo de constrangimento alheio. Com o fato - e ainda bem perto de casa, subiu pro apartamento modesto na rua bonita, a Rua Parede. Sentou-se no sofá e lá voltou a ser o que era, mesmo que depois de todo aquele caminho percorrido por sua reflexão, ela morrera no instante em que pisou na parada moradia urbana e com muitos cantos. (acho, por isso que tanto tomou-se como pouco e sentiu-se como muito)
Falava sozinho, não por ser doido ou por falta de amigo, só confiava, muito, em si mesmo e tudo aquilo, seja um textinho mal escrito ou um palavrão mais cabeludo, ouvi-lo era seu maior prazer. Seu próprio analista.
Café forte pra reanimar o que não pode mais, pão fresquinho pra saciar o que não se dá mais. E essas, inúteis vão tomando seu tempo - em momento algum o perdendo, se divertia fazendo.
Um dia destes que qualquer um mais corajoso renunciaria a toda crença e se poria, de ato, na suficiência: mais uma vez desceu o elevador pensativo na agitação, mas quieto e aflito no silêncio interno, que teimava em persegui-lo. Abriu a porta, desceu para rua. A Parede o entendia sussurrar de novo os mesmos versos escritos por uma mão fraca em poder de uma caneta infinda.
O tal garoto não vingou, enquanto via o mesmo estranho intruso e sádico num momento oportuno de vingança.
Uma agitação na Rua Parede que'u não esqueço. Mesmo vendo daqui minha própria vida, que deixei de viver a muito tempo.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Clichê dos surpresos

"Como pude?", eu sem todo aquele amor que dei, me senti sugado por uma coisa que vai além de minhas senhorias, até daquilo que não sou dono me é arrancado. Sê-lo é difícil, em notório. Por demais, retiraram-me os defeitos, triviais e ségridos. Depois de poucas horas me lamentando do furto, olhei bem nos olhos vazios - porém agora fartos - do assaltante que retrucou de forma imensurável, um regozijo pelos fatos da madrugada afanada.
Em meio a tudo, seu último ato angustiado, foi encarar-me com pena, satisfeito e embabecido pelo meu amor, tão somente, escondido. O navegante dos meus mares pensativos, agora não mais tinha o leme em seu poder, o medo se instalou no meu coração pela ausência. Então retorci-me diante aquilo e gritei um ruído quase silenciado pelo horror.
Por fim deixou-me indefeso no canto do hospício metafórico, que se chamou; antes de ir, me disse uma frase afável e egoísta, que por mal, endoideci de paixão. "Porque de pouco me fez, e de pouco serei, só por te fartar o bom.", disse minha última.
Foi-se, então, perdeu-se em meio toda aquela claridade e retrospecta, vagarosamente, caminhando com as pernas, não com a pressa.


"Reflitamos"

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Realidade Fantasiada

Um buraco no meio do mundo, saí eu de um fim que dali se tornou início. Fui num mercado e pedi amor por encomenda, o atendente me lastimou a pergunta, respondendo com uma feição nada amigável. Eu repedi e ele, enfim, começou o sermão:
- Não se compra essas coisas aqui, meu sr.
- Como não?, respondi abismado.
- Isso é sentimento, não tem preço e não se encontra em prateleira.
Ainda muito confuso, agradeci a atenção, mas virei com certo ódio da resposta. - sem querer saí com a mercadoria errada.
Fui logo descendo e subindo as escadas desordenadas da cidade que não me encarava nos olhos. Na próxima loja; comecei:
- Pode me dar um amor?
- Aqui, meu senhor, não é hospício.
- Como assim? - já frustrado.
- Por favor, não amole. Vai comprar algo?
Saí da loja com sinais de dúvida. - mais uma vez comprei o que não queria. Na rua da vila movimentada eu vi lá no fundo uma mulher de poucos acontecimentos, sem senhoria nem nada que lhe trouxesse respeito. Ela reduzia-me em um ser qualquer e ordinário. Achei que uma pessoa assim podia me dizer onde conseguir um amor.
Então não evitei, fui logo perguntando: - Você vende amor?
- Vendo sim!, respondeu a garotinha.
- Que bom poderia me ver um?
De prontidão levou-me ao fundo de uma rua e lá se despiu. Eu já gostoso do ato, não recusei. Quando fui me desvaler daquele cabimento, ela me repudiou e disse:
- O que queres?
- ...
- Não queres Amor?
- Quero sim.
Depois tomou-me as mãos e olhou em meus olhos. Aquelas luzes fortes que saiam de seu sorriso inanimado hipnotizou-me.
- Toma-me e leva-me como teu amor.
- Como?
- Leva-me como sua.
Com todo o rebuliço eu a usei. Mas depois de violada ela me olhou e resmungou taciturna:
- A partir deste, sua descendência nunca mais chegará perto do Amor.


"Reflitamos"

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Confusão de rua

Nessa ruazinha de pessoas apessoais e com pensamentos humildes, nasceram duas crianças, Clarice e Daniel, seus pais eram daqueles que todos conhecem, com costumes tradicionais e tradições costumeiras. Dias ensolarados de férias. Foram os necessários pra tirar toda ordem da Rua Saramago. Mas voltemos um pouco na história. Os filhos tinham toda estrutura que precisavam, campo, rio e animais, uma vidinha de interior que acarinhava qualquer olhar estrangeiro.
Clarice, astuta, sempre brincava de descobrir, com suas mãozinhas fez o diabo, marcas na parede até no lençol do colchão. Já Daniel, tranqüilo e com pouco atividade, fazia o que pouco lhe agradava, lia muito e pensava demais...Fantasiava-se e transportava-se para estórias que sua mãe desconhecia.
Então, por fim, a confusão. Ele e ela tinham muitas coisas incomuns, não agradavam olhares mediadores, mas nada de mais aconteceu, até que o patriarca encontrou o menino sentado no banheiro, satisfazendo seu instinto feminino resguardado. Já Clarice, a pegou se amassando com a prima a noite no celeiro, suas atitudes foram tão fogosas que seu pai desconfiou: "é demônio!".
Com essa notícia se espalhando no vilarejo a mãe Odélia não se conteve e enforcou-se com o avental de cozinha. Tamanho desgosto sobrou, todo, pro pai Osvaldo, que também tentou, mas o que conseguiu foram só algumas fraturas. (tal motivo pro apelido de azarão)
Aqueles boatos tinham pernas próprias, mal precisavam de fofoqueiras, se proliferaram com praga. Caos, tomaram conta de outros encarcerados mentais...
Houve o que houve e todos, até hoje, culpam Osvaldo por toda aquela desgraça. Daniel se assanhou com o padre da igreja, que largou a batina pra ser passivo. Clarice desbancou, pegou violão e gritou ao mundo suas posições favoritas. Osvaldo tornou-se imortal, como punição, feita por um macumbeiro da vila. A cidade foi extinta e sobrou, tão somente, Osvaldo, espectador de desgraças.

- Rua Saramago mudou de nome. Quer dizer, não existe mais, mera lembrança de amnésico -

"Reflitamos"

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Diga-me mentiras

Lucas foi sempre um cara muito inconstante, ora era muito sincero, ora era corrupto. Só que essas coisas ninguém via. Era só olhar nos seus olhos que logo se perdia no incógnito. Diziam à ele palavras de consolo e ele vomitava agradecimentos, mesmo sabendo que a real vontade era fazer-lhes de gato e sapato. Usa-los de forma compreensível. Falou com mamãe e disse que estava feliz. Defendendo a única coisa em que acreditava, ignóbil humano. Já desistira, não iria mais fazer ou pensar em melhoras aceitou como um cristão as coisas de seu senhor.
Bruna o contou as coisas que ele pensava; repleto de ódio pela invasão surrou a menina e tirou-lhe a vergonha da amarga secura.
Logo depois ele disse baixinho: - "sem mesmo você querer, eu te disse: me diga mentiras"; a garota largada respondeu com suspiro sádico e balbuciou impronunciavelmente vaticínios funestos.
A profecia o fez pensar; de como é bom ser um resto com vontades saciadas e deslumbre da calúnia.


"Reflitamos"

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Homem pra todas "a hora".

Num restaurante caro - mas caro mesmo; jantavam um grupo de amigos, dois homens e uma mulher, a mesma ofuscava todos pela beleza. Ele queria demais o que sempre todos fabricamos nas horas vagas, de imbecilidade conectiva. Queria gritar aos cantos com ela. Estavam sentados, claro, no barzinho de espera, porque caro já nos traz a frase "difícil de achar lugar", mas tudo bem, era essa hora que tinha pra dizer o que sempre quis, que amava. Tudo conspirava contra Gustavo. Rodrigo era mais desenvolto e extrovertido; ele só tinha paixão insólita por Flaubert. Ela, digna de um deus, com aquela melodia que chamavam de voz, seda auditiva.
Começou lá a batalha. Rodrigo logo começou discutir coisas que a agradavam e Guga quieto, inerte à situação. Então foi um punhal no peito. "Quer namorar comigo, Cê?", desmoronou por dentro e regurgitou um sorriso. "Filho-da-puta, como pode fazer isso comigo?", pensou Gustavo aterrorizado. Cecília sem palavras, riu da situação; sabia de sua beleza indimensionável. Então o corno-sentido, foi ao banheiro sentou na privada e defecou lá mesmo seus devaneios. Enquanto isso, O casal discutia como fariam, ela ainda não aceitava, mas ele já levava como certo. Passou 10, 15, 20 minutos e nada de Gustavo. Começaram a se preocupar, "Cadê esse otário? O invejoso já fugiu e nem mesmo vai ver minha vitória", Rodrigo se vangloriava em segredo, olhando de tempo em tempo pra menina linda. Foi então, que ouve-se um grito! Todos assustados - apagaram-se as luzes, o corpo do garanhão estava estendido no carpete chique com um furo nas idéias. Cecília gritava feito uma violentada, e Gustavo atônito balbuciou algumas semi-palavras. A perícia veio, não tinham provas, arquivou-se o caso. Rodrigo tinha muitos inimigos, ninguém gostava dele, isso ajudou no mau caso da polícia em achar o assassino.
Depois de algum tempinho digerindo a boa perda, Gusta levou Cê pra casa, na porta, no último abraço ele ouvi bem sussurrado, "Fui eu, amorzinho". Ele olhou pra ela espantado e sorriu malignamente. Ela retrucou, com um piscar de olhos insinuando seu tesão. Então confessa, "eu queria tê-lo matado, Cecília! Nem nessas horas posso ser homem? Porra!"
A garota riu descarada e gemeu, "Tu é um frouxo gostoso, só isso..."
Os dois se beijaram, entraram e - até que enfim - Gustavo fez papel de homem.


"Reflitamos"

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Fartando doidos

Esse era alienado. Ricardo. Tinha vontades que ninguém entendia, queria ser encontrado na rua e - vai saber - reconhecido por algo que tenha feito, ou até não. Um dia destes, esses que a gente nem percebe que passa, ele estava andando na ruinha perto da sua casa quando, então, uma garotinha minúscula, comparando com seu ego, que inocentemente estartou a falar: - Olha, você não é aquele que fez algo de mais?
Aquilo o saciou, mas o próprio nem quis mostrar o que sentia. Depois dos instantes em silêncio o alienado responde indiferentemente: - Sim, sou eu mesmo. A menina arregalou os olhos e saiu correndo em direção da esquina mais próxima. Ricardo continuou andando, curtindo as palavras da singela garotinha na sua brasa mental, alimentando-a.
Lá na esquina, a menina encontra uma mulher, já senhora de experiência, que lhe estendeu a mão com alguns trocados, que de prontidão a sapeca aceitou e sumiu no horizonte.
Com Ricardo ainda em vista, a misteriosa sorria ao ver seu desejo cumprido, mesmo que comprado, os passos do rapaz a contentaram...
Por fim a senhora sentou no chão com pensar alienista e balbuciou qualquer coisa na esperança de achar outro doido pra fazer feliz.

"Reflitamos"

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Toda a história

"Marina. Garotinha sem preconceitos, adora as novidades. Ah, que menina, viu? Linda, com curvas que provocavam até padres, quer dizer, eles são os mais fáceis, provocava até gays. Ela tinha pensamentos torpes de manhã, profanos de tarde e luxuriosos de noite, ou seja, uma depravada, só que enrustida. "Toda mulher é uma prostituta em potencial". Ela gritava de noite por não ter conteúdo, revirava-se em sua cama.
É amiguinhos, essa era mais uma.
Sumiu. Ninguém procurou, só ficou na lembrança daqueles que a tiveram."

- Pronto, amor! Já me saciou a vontade de ser uma quenga...


"Reflitamos"

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Não gosto de poesias

Agora sim, tá tudo acabado
Corpos no chão
Que valem algum tostão
Sinal que tá tudo errado.

Lógico imbecil -
Não seja assim tão vil -
Se acabou
É sinal que alguém errou

Mas lógico,
disso eu sei.
Vivemos num zoológico,
como reféns.

Gente garota e sem experiência
Rouba seus bens.
- Disso eu sei -
Então, qual a vivência?

Animal, seu tênis -
O que tem meu tênis?
Está desamarrado.
Ah, obrigado...

(O garoto o empurrou e roubou)

Realmente, amigo.
(Falo comigo)
Está tudo errado.
E ninguém pune o culpado.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Persuasão

"O professor pediu pra gente galgarmos os degrais sempre que possível for." com essas palavras Nelson Rodrigues divertiu-se em suas crônicas, Papa fez orações e até a Sônia disse que era obra do maligno, todos temos infelizes frase, não? Mas agora, será que ter só frases infelizes é privilégio do nosso presidente?


"Reflitamos"

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Surdo, jamais.

Dirigindo à caminho de casa, Simão, pai de família e bom esposo, escondia de seus amados um costume condenável por sons, sentia-se sinestético. Ouvia ruídos do rádio, das palavras de seus acompanhantes e tudo aquilo fartava o vício imensurável, até o momento.
Conflito de carros. Rodas ao relento do ar, partes tão distintas agora se encontrando na dança da morte. O carro de Simão voa - o carro realiza seu sonho, quebra-se e morre feliz - ao olhar para o lado o homem vê sua prole dilacerada e sua mulher em posição profana, agora era ele e o som.
Os correspondentes ao acidente já não o saciavam, até que então percebe o corrosivo som do fogo que delimitaria sua vida, dificilmente gozou ao ouvir gritos de desespero.
Seu último momento. Esticou o braço como pode, aumentou o volume do rádio.Escutou e deixou de escutar...


"Reflitamos"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Benevolência Policromática

Davi, um garotinho bem bacana, gostava de meninas como se fosse um adoidado, sua estima era tanta que queria experimentar; experimentou, mas quis, logo, trocar.
Até quando o interesse instintivo - se...cofcof...xo - do ser será reprimido por nominhos mais afáveis?

"Reflitamos"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Terra das Frutas

Era em uma esquina com duas ruas muito movimentadas que Prefeito foi pego consumindo a luxúria, bêbado e com as vestes todas manchadas de batom e libido. Parou na primeira página, com direito a foto pousada - pelo menos por parte da garota...de programa. Sua vida não era fácil; saber reger uma cidade não é trabalho de Jeca, mas toda essa dificuldade mostraria que não era o bastante para tal "liberdade de expressão".
O Prefeito tinha lá seus defeitos, estudado e bem crítico, andava na rua dando tchau's à todos que visse; só que pecou ao cumprimentar Doralinda, a tal garota. Ela logo se jogou ao seus braços desculpando-se e culpando o degrau tendencioso; convidou-a para encontrarem-se sem mais delongas e ela aceitou, fingindo uma timidez que beirava atuação mexicana.
No encontro. Trocaram olhares, e carícias por debaixo da mesa, ela já sabida da lascívia, o divertiu com quentes passadas de pernas. Logo o levou ao motel de sua freqüência e lá destilou-se o tesão enrustido nas horas passadas.

Doralinda, no final, despediu-se, sem dar-lhe esperança. O Prefeito a fitou e suplicou: - Por que?
Redargüiu a mocinha da vida: - Não é o bastante.

Terra das Frutas nunca mais vendeu bananas, pois a fruta lembrava - vai saber o porquê - seu fracasso. E que homem suporta a recordação de sua insuficiência?


"Reflitamos"

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Alerte todos: "Temos um novo comandante"

Avise à todos que cheguei para enfrentá-lo com austero ímpeto de gritar com sua cabeça em mãos; diga para sua mãe que ele não irá dormir mais em casa e que se despeça com um beijo na testa, pois terá unicamente o resto do corpo à velar.
Sou de Sarteiro e vim com vontade de sangue. Quero que ele me enfrente como mero homem que é, sua forma me humilhou por apenas existir em tantos outros momentos que o fizeram difamar-me sem proferir uma palavra.
- Não era mais evitável, as "idéias" seriam destacadas do corpo e tudo teria fim -
Se encontraram o desafiante estava apontando-lhe um punhal e o desafiado punha-se em alerta, o conflito começou com promessas...
A cabeça fitou o olhar de todos os espectadores e depois tiveram a noção de um provocador imbecil que teve suas entranhas à mostra.
O assassino pegou gosto pela morte e gritou:
"Quem se atreve a não seguir a vida de subordinado?"
A multidão, toda aflita, se aquieta...

Aviso à todos: "A divindade foi roubada"

"Reflitamos"

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Gatafunhos ensagüentados

Muito tempo atrás, antes mesmo que todos soubessem o que é arte e puderem avaliar as coisas como elas são - ou como gostariam que fosse, meu filho teve a audácia de pintar.
Pegou um papel e desenhou o que sentiu; traços pra cá, borrões pra lá, mas de nada significava aos outros, isso o irritava, a tal ignorância que me falava era dilaceradora, sentia vontade de apunhalar o primeiro que duvidasse da profundidade de seus rabiscos.
O primeiro foi Charles, ousou perguntar o que significava e foi encontrado no monumento aos Bandeirantes, nudu e enforcado por suas próprias roupas.
Meu filho é um mero doente pelo que faz e todos não vêm nada além da patologia efêmera, já eu vejo tudo de mais lindo que se possa existir.

- Ao fim do depoimento, seu filho lhe apontou a arma com olhar de aprovação pelas palavras e terminou com um tiro na fronte de seu pai. -


"Reflitamos"

sábado, 26 de janeiro de 2008

Putz, sonífero demais

Escritor, ou melhor um carinha qualquer que acha que ordenar palavras é escrever. As palavras não-usuais não o deixavam, expressar-se de outro jeito não agradava a mamãe. Ela gosta de gente que fala difícil. Então não teve escolha. No dia do seu aniversário, o homem faria 38 anos, encontrou o fim. Não sabia se estava certo, depois de morto. Mamãe o encontrou estirado no chão, soltando bolhas pela boca, que evidenciavam o envenenamento.
Um bilhete como adorno foi lido em voz alto no seu velório:
"Estou depredado pela'quela que custa em fechar meus olhos, teimando não me matar...Só deixando-me degustar pedaços do paraíso que irei deleitar quando a definitiva me levar sorrateiramente ou não."
Todos choraram - sem mesmo nem entender aquelas palavras. - menos um, que se indignou com a reação de todos e soltou:
"Como podem chorar ...? Só queria dormir...Dosagem errada de sonífero!"

Choraram mais ainda..."Pobre homem. Morreu infeliz e com sono."


"Reflitamos"

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Inferninho no ponto.

Charles passa na Av. Paulista e vê na esquina uma garota muito atraente -com bunda enorme e lisa. Logo pensou: "Meu pai! Êta mulherão". É prostituta, não é possível. Charles tinha que refugiar-se nessa possibilidade, não gostava de se apaixonar.

A menina retrucou o olhar luxurioso do garotão, que se constrangeu. Ela, reparando aquela cena quis brincar...Empinou pra cá, acariciou pra lá. Ele endoidou, saiu em partida atrás dum banheiro pra se saciar, mas de nada adiantou. Depois de ver que já havia virado obscenidade daquele voyer, ela logo exprimiu-se no ponto, como se despontando o punheteiro.

Ela, antes de ir, gritou:

Sou estudada, meu senhor, pelo Amor de Deus!


Ele esperou horas e horas a volta da garota de suas horas de divertimento.

Parabéns, São Paulo.

"Reflitamos"(pelo menos em textos "assenssuais")

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Noites sem escrever

Compenetrado e pensando no que podia retratar em palavras. Sua falta de criatividade o estava matando, retirando-lhe todos os vitais com um punhal de ouro que só valoriza sua morte espiritual.
Deitou-se, como se dissesse ao mundo que desistiu, retorceu-se na cama simulando um ataque pra ver se na angústia conseguia algo para escrever - de um lado para o outro. Avistou - antes de pensar em auto flagelo - uma luz branda vindo debaixo da porta enriquecendo o quarto sombrio.
Naquela penumbra viu o adiante. Desesperou-se ao saber que nada era, além de uma vastidão de vagos augúrios que de nada puderam lhe acrescentar. Aquilo o comoveu e fez levantar-se, sentado na beira da cama provocou certas frases - ruins, de péssimo gosto. Logo engendrou uma porta fictícia e abriu...Passou por ela e alcançou com olhos d'água um poço com uma identificação, dizia "Jogue-se". Após a notória exacerbação de seu sentido caminhou ao poço. Chegou lá...Quando ia aprofundar-se na memória daquele abismo, voltou para a cama.
A sua boca estartou-se em desejo; pegou o lápis e ainda, nem mesmo com toda aquela ocasião, não conseguiu escrever nem sequer um vocábulo.


"Reflitamos"

domingo, 20 de janeiro de 2008

Teoria da Relatividade

Pense pequeno e seja feliz pra sempre, pense grande e seja feliz apenas por instantes. O que de relativo eu profiro nesta vida acaba decaindo na redundância de quem as lê. Perdoem-me os anti-pleonásticos, mas se tudo se desenrola dentro do seio de meus fiéis, logo dito vaticínios que irritam a todos.


"Reflitamos"

sábado, 19 de janeiro de 2008

Doutor: "Eu te amo"

Meu coração, por você, é constante; se contrai e relaxa de forma prazerosa, sacia meus desejos, mas me doou mais do que recebo. Uma bomba hidráulica que jorra amores antes nunca ditos. Minhas artérias abdicam de sua estrutura e restorcem o sangue oxigenado por sua timidez esmera, desaguam nos mares de minhas veias uma cumplicidade fervorosa e profana. Os meus átrios e ventrílucos revezam em suas atividades para cederem tempos aleatórios à você, finalmente se juntam e irrigam meu corpo com o líquido vital do nosso amor.

Doutor:
-Eu te amo.


"Reflitamos"

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Bernardo, caçador de coisas

Ele era um garotinho de meia-idade que tinha taras pelas tias e gostava de usar as primas. Ia no banheiro quando estava com vontade e sabia controlar a lascívia em seu coração, não queria nada mais do que apenas uma vez fazer o que os adultos gostam. Mesmo não sabendo o que era. Apenas tinha o vago devaneio de ser algo bom pra pele e pros pensamentos solitários. Aprendeu a tocar instrumento porque achava bonito, não pela melodia. Bernardo era compenetrado e, em demasia, superficial. Gostava de ler livros intelectuais para equilibrar seu desapreço por sua própria aparência. Corria atrás de meninas com aparência alternativa, mas não dispensava um pornozão clichê.
Ouvia Jazz quando entrava alguém que queria impressionar, ao sair deliciava-se com pagodes e funks infames.
Bernardo era bacana. Um cara descendente, que ouvia escárnios e só era lembrado pela burrices que fazia.
Pobre Bernardo, mais um de muitos.

Ah! Bernardo era um bom cozinheiro.


"Reflitamos"

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Renascer dos crédulos

Mercedes cairão ao meu lado, BMW's cairão ao meu outro lado e eu não serei atingido por toda essa caridade capitalista, que toma meus líderes a cederem à'lguns - pequeninos - pecados, mas que não deixam de me dizer o que tenho de fazer, simplesmente sigo - pela retórica que os é farta.

Estou sob a guarda de suas contas-correntes, onde deposito toda minha confiança - mas é claro. Onde posso a-creditar todo meu coração própero.



Reflitamos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Aroma visual

As maneiras de como sou oposicionado pelo cheiro de uma lembrança, despertam e limitam em mim reações tão humanas que chegam a me irritar. Todos os seus caminhos, sejam eles ruins ou péssimos, vão me trazer a desilusão de um delírio cheiroso. Por mais que eu consiga fazer deste instante um que valha a pena, sempre terá alguém pra me invejar a dor ou perda.
Ode escárnio que tanto resulta em escória medonha. De meu poetismo cínico só taciturnaria um gemido eloqüente.



"Reflitamos" - mesmo que no meu realismo tão amador.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Santa...

Catarina olhou pra mim com face indagadora e ditou:
- Flor irá à Nópolis?
Depois de meu rápido sinal de afirmação ela foi deitar-se e nesse período abdiquei de meu sono para poder vê-la dormir.

Ô, santa Catarina, beata de meus sonhos.


"Reflitamos"

sábado, 12 de janeiro de 2008

...Catarina.

Seus mares me disseram coisas repetidas e, também, novas. Com seus caminhos cheios de mulheres formosas. Olharam pra mim ao passar por ela, nu, sem que houvesse tempo pra me vestir daquilo que tanto queriam caí na desilusão de meus sentidos e trai-me por um cheio de páginas, mergulhei em todos os mares menos no de Catarina.
Catarina, bela minha. Devassos são seus olhos que só me despertam o único suspiro, de todo meu coração.


"Reflitamos".

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

O Pôr do Sol

Um pai e seu filho passam em uma rua movimentada de uma capital rica e desigual, enquanto andam seu filho curioso avista ao longe um homem negro de terno, só que amarrotado, e pergunta ao pai:
-Papai o que é isso?
O pai impaciente pelo ambiente que o cercava logo conceituou:
-É um mendigo, meu filho.
-Mas por que ele está deitado? - diz o menino duvidoso.
O pai cheio daquelas perguntas imperativa algumas frases:
-Pare já com essa perguntas. Não perca tempo com essas dúvidas, meu filho.
O filho com aquela ação logo inferiu um certo desapreço pelo homem em foco e logo exclamou:
-Pai se fosse igual a ele, você me amaria?
E lá começou a existir um que não era humano.


Reflitamos.

Rasgação de sedas

Rasgação de sedas