Descasado. Sem compromisso com os lábios, apenas de olhos nos olhos-baixos das mulheres que por mim passavam. Na memória só uma, mas comigo, lá; comigo: nenhuma.
Eu queria só pra mim aquela dor, só pra mim, que fosse auto, não provocada.Não-provocada. Que ninguém fosse culpado da minha parafilia. Minhas síndromes, suma, minhas. Meus torceres e piscares frestados daquele sol rubro de fim de tarde. Com as afiadas a mão, e teu corpo lá na cama esperando-me, com o suor. Deixei-a, a linda, em cima da cabeceira espreitada de segundo a segundo com canto do fito. Conhecia o morto, com as mãos que ainda eram impedidas, com as antigas mordidas. Ela sabia. Não fugiu. Abriu os braços e me disse que estava pronta pra receber-me, seja, encardido pelo amor festeiro, que no mesmo dia consumira meus doces da memória, mas esqueceu um. Aquela raiva voltara, bateu a porta e entrou, porta aberta. Caminhar devagar, não parecia ela. Chegou no peito, pulsante e dolorido. Encostei na lâmina e olhei o reflexo da escuridão, que inclinava a cabeça. Feri, o primeiro correu-se, a gota incrustada no meu tórax, também começou a jorrar sangue; Elas chorosas gotas de sangue, que corriam do corpo meu ao corpo dela. Sem permissão, começaram.
No dia anterior a vi. Com outro, negando e sorrindo. Sorriu à todos na sala. A faca pediu permissão, não foi descortês sua maleficência. Voltamos ao agora.
Sublime amor que ela dizia no canto do meu ouvido, intercalando gemidos e respirações lascivas. Ela infiltrara-se. Também, com o amor da minha lâmina. Mostrou-me suja. A cabeça saía do lugar, tempo em tempo, tão somente para procurar de volta a vida que fora tirada. Mão a mão. Faca a faca.
O último beijo. Com os lábios roxos, de ambos. E com o último suspiro. Este: louvor meu.
sábado, 21 de junho de 2008
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Rasgação de sedas

2 comentários:
Doentio ciúme que lhe atinge.
Excelente texto! Como sempre.
você já reparou que algumas pessoas, por mais que a gente as mate todos os dias, teimam em renascer diante dos nossos olhos mais do que a gente pode suportar?
Cansativo isso, matar sem êxito.
Amei o texto.
Beijos ;)
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