segunda-feira, 2 de junho de 2008

Minha estória gargulesca

Chamei o elevador, ele descia estranhamente mais lento, parecia desfrutar a cada andar que passava, com os perfumes de suas viajantes. Ele chegou esnobe, com a porta emperrou, mostrando.
Subi ao meu. Sentado ao relento dos pensamentos, interrompeu-me. Com o olhar tagarela, me puxou ao hall, com o mesmo soberbo elevador de antes. Dentro um homem garboso e sem graça. Virou pra mim e disse que não me amava mais. Indaguei a causa, conseqüência, e qualquer que fosse a pergunta, nexo ou sem. Derrubei à ela meu coração, que da boca usou de saída. Saiu encharcado da sovina amorosa e manchado daquele mesmo remédio que o fez sorrir.
- Você me amava enquanto estávamos juntos?; com palavras cortadas.
-Não...
O descaso e o sorriso largo na face da moça tirou-me o chão. Um abismo que não cavei, tomei pra mim.Tornei a ela, e a paixão só crescia, não cessava. Deixava mais profunda a ferida. Abri a porta. Ela apontava pra ele e dizia convicta: - Esse que eu amei, e amarei.
Tornara-me um elevador, que de tempo em tempo, tão somente, saciava o amor pelas donzelas que adentravam seu coração, passageiras, as mais belas. Aprendi a amar seus amores, porque dentro de mim fizeram as loucuras que tive de ver. Agora não mais, porque refugiei-me no dos outros; subi ao último andar do prédio antigo. Olhei para os lados, muitos cúmplices. Antes de mim. Diante, também. Todos à mercê de um respirar mais longo, ou adágio saudosista da boa época. Encarei o chão. Ele também me traiu. Abraçou outros e não a mim.

Nada sou...Um gárgula namorador de gotas de chuva. E, ainda...O Sol vem me privar.

2 comentários:

André Cavalheiro disse...

Demais.

Isso que é um sonho inspirador, o resto...

Só que o final não é assim no sonho... Né? Enfim, detonou xD

Flávia disse...

Eu odeio elevadores. Para mim eles funcionam como a materializaçaõ de todos os meus pavores claustrofóbicos. Mas esse seu, eu até encarava. ;)

Amei o texto.

Beijo!

Rasgação de sedas

Rasgação de sedas