terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Gatafunhos ensagüentados

Muito tempo atrás, antes mesmo que todos soubessem o que é arte e puderem avaliar as coisas como elas são - ou como gostariam que fosse, meu filho teve a audácia de pintar.
Pegou um papel e desenhou o que sentiu; traços pra cá, borrões pra lá, mas de nada significava aos outros, isso o irritava, a tal ignorância que me falava era dilaceradora, sentia vontade de apunhalar o primeiro que duvidasse da profundidade de seus rabiscos.
O primeiro foi Charles, ousou perguntar o que significava e foi encontrado no monumento aos Bandeirantes, nudu e enforcado por suas próprias roupas.
Meu filho é um mero doente pelo que faz e todos não vêm nada além da patologia efêmera, já eu vejo tudo de mais lindo que se possa existir.

- Ao fim do depoimento, seu filho lhe apontou a arma com olhar de aprovação pelas palavras e terminou com um tiro na fronte de seu pai. -


"Reflitamos"

3 comentários:

André Cavalheiro disse...

Zénti!
Por essas e outras que jamais disseram que uma obra da Yoko Ono é ridícula...

Uóndéfól.

Andrei R. disse...

Não sei se era a intenção, acredito que seja, mas o texto nos possibilita diversas interpretações. Muito bom.

Parabéns, Caio Costacurta.

Anônimo disse...

Caio, Caio!

Lendo o comentário do digníssimo Andrei, me recordei de um comentário que fiz sobre sua escrita a um tempo atrás. Você tem o dom de escrever textos com interpretações múltiplas, como eu mesmo disse a você, "interpretações subliminares com um toque de surrealismo".

Muito bom! Um perfeito modernista! haha

Sinto muita falta de não estar envolvido mais por pessoas como vocês, tão inteligentes.

Notei uma grande evolução no seu modo de escrever, continue nessas águas!Adoro seus textos.

Abraços.

Rasgação de sedas

Rasgação de sedas