Ela nasceu e a vi com os primeiros olhos, sua formosa noção de sorrir, seu choro maestrado pelo doutor. Saí do hospital, aos braços de minha filha que tanto sorria, risada gostosa, contagiou a mãe.
Curiosa, foi ter em todos os cômodos uma história pra contar ao amigo imaginário, disse, “voei mais alto que qualquer pássaro já voou”. Nesses instantes estava eu de espectador, sem controle de fala, quieto e inerte à situação. Qualquer ranger de portas tirava-me a paciência, estava em um espetáculo.
Mãe começou a não me ver mais. Pegou-me ao lado da criança deitado, dormindo; Bastava a criança sorrir e o pai ia atrás de qualquer que fosse sua vontade.
Cresceu mais e tornou-se formada de curvas e olhar lascivo, eu a trancafiei em casa, não saia por nada e pura iria ser até que a morte me levasse, antes disso nada a usurparia. Sua mãe olhava com um olhar que eu não entendia; meio cerrado e odioso. Escarniava a qualquer sinal da bela filha. Ao sair pra trazer um de muitos dos agrados à menina, cheguei e o silêncio roubara-me o sossego. A porta de minha menina violada; já aos infernos entrei e lá estava. Jorrada de sangue minha perfeita filha jogada ao chão com o peito perfurado pela mão materna. A mãe com o olhar satisfeito, ao me ver começou a despir-se e eu pasmo, dei-lhe um juntado à fuça. Ainda com fúria, matei-a aos ódios; sussurrando a vida que lhe restara, me disse, “matei a mulher que tirou você de mim, eu não deixo ninguém contigo, Bernardo, ninguém”. O último fôlego foi para dizer que me amava. Depois com a menina em meus braços ensangüentados, falei no canto da boca, nossas maçãs-do-rosto encontraram-se no pomar melancólico da morte. Ela ainda bela com os olhares fixos no pai, que lhe trazia a felicidade a cada fitar fugaz. A vida levara minha única vida. Debrucei na garota de sangue. Dormi em teu leito e hoje conto a estória, esta, ao lado dos mesmos demônios que a tiraram de mim. Sou o pai da mulher-mais-linda-deste-mundo.
3 comentários:
Huumm... Acho que agora sei por quê você não quer ter filhos...
Belo texto.
Olá, Caio!
Triste, muito triste. E a mulher dele com certeza teve depressão pós-parto.
Abraços!
Fernando, quanto tempo meu caro!
Realmente depressão pós-parto e ciúme-obsessivo pós-parto!
Abraço.
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