quarta-feira, 9 de julho de 2008

Shakespeare não me ensinou a matar

Doído sempre me foi, não ter um cúmplice só meu. A luz acesa não vence a escuridão na nossa frente. Diziam para mim os fieis, que de nada fazia sentido o medo incrustado no meu sorriso. Eu olhei pra ela, e não a vi companheira. Estava só. Amando só. Pensando nela: acompanhado. Milhares de fitas envolveram a brisa do andar, donzela caminhara. Donzela me amara. Ama ainda? Eu sou romancista há muito, venho ter com os sentimentos desde que olhei para eles. Ela tinha que ser minha, tão somente, minha. Ou pelo menos mentir pra mim, dizendo ser. Não; faz questão de olhar à todos, sorrir à todos e, o pior, amar à todos. A minha heresia foi amar sozinho, ter nela todo meu adágio, sublime e torpe. Seja na manhã ensolarada, luar de madrugada ou entardecer do meu sono. A musa, não mais minha, já tinha outros amores. Outros afagos, prelúdios de noites de amor. Violinistas, machetes, liras, harpas...Ao som orquestrado pelos seios da mulher que amo. Assistindo a tudo isso, meus olhos converteram-se em chamas e miséria. A seca de tempos atrás se fez contemporânea. E tudo que tinha vida, tornou-se em morte, não morto. Morte em si. Fez uma arma em minhas mãos, o soslaio olhar da donzela me achou. Ceifada de todo aquele cabimento; ela suplicou. Não consegui segurar-me: caí aos seus pés, submisso a tudo aquilo. A face com desejo, expressa para todas as mulheres. Aos homens coube a luxúria da solidão. De mim fez-se cinzas, de meu coração um púlpito. Antes mesmo de subirem ao palco, o furei. E todo o sangue estava manchado de dor, mas meu último sorriso foi dela. E ela retribuiu. Depois foi ter com outros rapazes.

3 comentários:

André Cavalheiro disse...

Eu ia fazer algum comentário do tipo: Chifronésio zio zio.

Mas achei que... Ok, eu já fiz.

Nice.

Flávia disse...

Shakespeare não me ensinou a matar. Mas também não ensinou a limpar o sangue manchado de dor. Já tentei fazê-lo com as mãos desfeitas ora em seda, ora em linho,e o mais que consegui foi incorporar a mancha às minhas vestes (im)puras.

Talvez eu não queira mesmo aprender alição.

Beijos ;)

André Cavalheiro disse...

"Sinta-se, ao menos uma vez, digno de atenção."

Tem gente que leva isto a sério, pelo jeito.

Rasgação de sedas

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